1 de nov. de 2008

Entrevista: Aspectos Sociais da Igreja

1) O que você acha sobre a solidariedade na sociedade?

A solidariedade é uma característica do ser humano, o que precisamos responder é o que é solidariedade válida diante de Deus. Obras por obras, o Senhor nos ensina que podem ser consideradas trapos de imundície, mas as obras feitas diante das motivações corretas são gloriosas aos olhos de Deus. Agora, quando somos crentes, isso passa a ser uma coisa natural no meio da Igreja. Desde Atos 2, depois da decida do Espírito em Pentecostes, não havia mais necessitados na Igreja porque os irmãos cuidavam uns dos outros.

2) O senhor tem acompanhado todas as doações fornecidas na Igreja?

Nossa Igreja tem os Diáconos, que são encarregados dessa área social na Igreja. Essa instituição aconteceu em Atos 6:1-7 exatamente para que nós, Pastores, tenhamos mais tempo com aquilo que é essencial. O verso 4 diz assim: ‘e quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao ministério da Palavra’. Sendo assim, nós confiamos esse serviço (diaconia) aos irmãos que têm esse chamado.

3) É melhor dar do que receber? Por quê?

A Bíblia afirma isso em Atos 20:35. Paulo estava falando aos Presbíteros de Mileto e relembra a decisão do Concílio de Antioquia que ordenava socorrer aos necessitados, segundo instruções do próprio Jesus.

4) O que é mais doado pelos irmãos?

Os irmãos são muito generosos e doam de acordo com as necessidades. Não há coisas específicas, o que determina as doações é o necessidade do momento.

5) Os brasileiros se sentem comovidos em fazer doações pelo fato de se colocarem na situação do necessitado ou por gostar de ajudar mesmo? Por quê?

Creio que nem uma coisa nem outra. Não só os brasileiros, mas todas as pessoas do mundo (estou falando das não crentes) fazem doações por achar que podem alcançar algum favor de Deus com isso. Isso é um engano muito grande. Na verdade há os que fazem isso sinceramente, mas como Paulo explicou em Romanos 10:1-4 sinceridade e zelo por Deus não garante nada. Eles precisam de ‘entendimento’, ‘pois o fim da lei é Cristo para a justiça de todo aquele que crê’.

6) O senhor acredita que existem muitos doadores ou faltam mais na sociedade?

Eu creio que falta governo sério. Jamais haverá alguém que possa solucionar o problema da sociedade de forma pessoal. O ideal de Betinho (Herbert de Souza) é muito bonitinho, mas utópico. Não discordo que cada um de nós possa fazer alguma coisa (especialmente os crentes), mas creio que ações concretas e não paliativas precisam ser tomadas. Hoje, os governos engodam a sociedade com soluções paternalistas.

7) O senhor se considera um cidadão de bom coração? Por quê?

Essa pergunta é uma bronca. Outro dia chegou um seminarista para mim com uma pergunta desconcertante: ‘Pastor, o senhor é humilde?’ Certamente jamais seremos humildes para responder essa pergunta sem orgulho!
Creio que há uma similitude com essa pergunta agora. A Bíblia fala que naturalmente nenhum homem tem um bom coração (Mateus 15:19 e Jeremias 17:9). Então a resposta imediata à sua pergunta seria essa. Não.
O que muda essa perspectiva é o ato salvador de Deus que transforma o caráter do ser humano, nesse caso, aprendemos que as boas obras que fazemos também procedem de Deus, ‘pois dele procede o querer e o realizar’ (Filipenses 2:13) então a conclusão que chegamos é a de Paulo em Efésios 2:1-10, onde ele diz que devemos fazer as boas obras, apesar de nós, e quando fazemos nessa perspectiva extraímos de nós qualquer glória que deve ser tão somente de Deus.

8) A Igreja trabalha com quantos aspectos sociais?

Jesus nos ensina no Sermão do Monte (Mateus 6:1-4) que não devemos tocar trombone das coisas que fazemos. Mas posso lhe afirmar que não tentamos abraçar o mundo com as pernas, por isso, seguindo Gálatas 6:10, nós realmente priorizamos dirimir as necessidades dos irmãos em Cristo. Foi essa a atitude já vista lá em Atos também.

9) Quais as funções de cada trabalho oferecido pela Igreja?

As funções na Igreja são bem definidas pela Escritura. Quando alguém tenta fazer tudo, termina que nada fica bem feito. Então, na área social de nossa Igreja, além dos Diáconos, há outros irmãos e irmãs que se envolvem voluntariamente, mas, como já respondido antes, sem divulgação disso, pois não buscamos promoção, a não ser da Palavra de Cristo.

10) Para você existe muita gente carente dentro das Igrejas?

Jesus disse que ‘no mundo teríamos aflições’ (João 16:33) e que sempre teríamos os pobres (Mateus 26:11 – veja o contexto), então, sim, existe. Mas numa Igreja que tem pessoas com condições de ajudar umas às outras, essa carência é resolvida sem alarde, mas com muita competência pelos irmãos.

11) Qual a maior carência de uma pessoa necessitada?

Essa é uma grande pergunta. Precisamos analisá-la por dois aspectos distintos. Em primeiro lugar Tiago dia que se algum irmão precisar de roupa ou alimento e apenas dissermos ide em paz, isso não terá nenhum proveito (Tiago 2:15-17); mas veja que o contexto é de irmãos em Cristo. O que está por trás disso é o fato de que o maior problema daquele ‘irmão’ está resolvido e agora ele apenas precisa de alimento ou roupa e nós então precisamos providenciar isso para ele.
O problema, entretanto, é que esse texto não pode ser usado fora da Igreja, pois o maior problema dos famintos sem Cristo não é a fome, mas o próprio Cristo. Foi ele quem disse que o homem não viveria só de pão, mas de toda PALAVRA que procede da boca de Deus. Então o maior bem social que a Igreja pode fazer é pregar a Palavra, pois isso pode trazer bem estar eterno para a alma do indivíduo.
O equilíbrio, entretanto, precisa ser encontrado; pois não podemos deixar de fazer boas obras, já que Deus nos preparou para que andássemos nelas (Ef. 2:10), mas não podemos nos tornar numa Igreja que só se preocupa com o social, pois podemos resolver apenas o problema pequeno e esquecer a eternidade; sendo assim, a maior carência de todo homem sem Jesus é o próprio Jesus.

12) Como podemos mudar este quadro de carência entre as pessoas?

Pregando a Palavra. As outras coisas vêm por acréscimo (Mateus 6:33).

13) O que é o partir o pão?

Segundo a Bíblia, o partir o pão é participar da Ceia do Senhor.

14) Existem outros meios que a Igreja possa ajudar com o apoio dos empresários?

Todos na Igreja precisam estar envolvidos no tocante a dar e receber (Fil. 4:15), mas sempre lembrando as palavras de Jesus que a coisa precisa ser feita com descrição para que ninguém seja glorificado (visto, percebido) a não ser Jesus.

15) Quando nasce um Projeto Social isso faz bem para a Igreja?

Sem dúvida o envolvimento da Igreja em obra social faz bem aos irmãos. Tentamos exercer esse mandamento apontando para Jesus. Ele possuía toda glória, poder, majestade, alegria, paz, etc. e abriu mão de tudo para se doar por amor de pobres e miseráveis (na verdade mortos – Ef. 2:1) como nós (Hebreus 12:2 e Fil. 2:5-8). Então, como Paulo nesse último texto, tenhamos o mesmo sentimento!

16) O que você melhoraria? Por quê?

Sempre há o que melhorar. E a melhor maneira de melhorar é conhecendo cada vez mais profundamente a Bíblia. Ela é nossa única regra de fé e prática; sendo assim, conhecê-la é saber como agir na prática. Um dos lemas da Reforma Protestante é esse: Igreja Reformada, sempre Reformando; ou seja, sempre voltando os olhos para a Bíblia para aprendermos a agir e a enfrentar os problemas do nosso tempo.

17) Qual foi a melhor doação que você já fez?

Essa é outra daquelas perguntas desconcertantes. Leia Lucas 17:9,10 e essa é a única resposta que posso dar.

18) No seu ponto de vista as pessoas se aproveitam de quem trabalha? Por quê?

Sim. Esse é outro ponto muito bem lembrado. Nas qualificações dos que seria eleitos para esse serviço, em Atos 6, estava lá que eles precisavam ser cheios de sabedoria. Uma sabedoria específica para isso. Eu, por exemplo, não tenho esse chamado. Eu quando vejo alguém pedir, se não tiver cuidado, dou até o que não tenho. Por isso louvo a Deus pelos Diáconos. Eles investigam para saber se aquele que pede é aproveitador ou se é caso de real necessidade.
Muitos rejeitam até empregos, pois preferem viver no ócio e da solidariedade de outros. Esses não recebem nada de nós, pois ‘aquele que não quer trabalhar também não coma’ (II Tes. 3:10).

19) Somente as pessoas que são formadas em Serviço Social têm obrigação de trabalhar nessa área? Por quê?
Não. Creio que esse privilégio é de quem tenha o dom para isso. Nas qualificações Bíblicas não está escrito que só pode trabalhar nessa área quem faz serviço social. Na Igreja muitos profissionais de várias áreas (médicos, professores, dentistas, pastores, cabeleireiros, etc.) se envolvem e devem se envolver em todo o trabalho da Igreja. Inclusive nesse.

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