25 de nov. de 2008

Graça e Fé (Revista Proclamar)

Se os leitores estão acompanhando nossos últimos artigos, já perceberam que estamos tratando de alguns pontos que são básicos para a nossa fé. Já vimos até aqui que tudo o que cremos e precisamos em matéria de fé e prática está na Bíblia – pois ela é a Palavra autoritativa, inquestionável e perfeita de Deus. Vimos também que muitos declaram esse preceito, sem, contudo, crer nele, pois ao declarar a Suficiência da Escritura ainda se deixam levar por novas revelações do Espírito e, como vemos em Hebreus 1:1-4 essas novidades não existem.

Esse texto nos levou a outro ponto que foi analisado. Cristo é igualmente único, absoluto e suficiente. Mais uma vez vimos que todos os crentes podem afirmar que ele é o caminho a verdade e a vida e ninguém vai ao Pai senão por ele; mas na sua vida prática se deixam levar por substitutos de Cristo; como pastores, por exemplo, que têm muitas vezes palavra infalível negando tanto a suficiência da Escritura como de Cristo.

Nosso ponto hoje é analisar dois outros preceitos fundamentais para a fé bíblica: somos salvos pela graça (somente) e por meio da fé (somente). Talvez a simples citação de Efésios 2:8 e 9 fosse tudo o que precisássemos: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras para que ninguém se glorie”.

As duas palavras: Graça e Fé precisam ser entendidas à luz da Escritura. Graça tem um conceito conhecido mas que precisa ser melhor compreendido. Dizer acertadamente que Graça significa favor desmerecido, como todos sabem, não ensina tudo o que o termo realmente é.

Para que Graça tenha sentido, então o beneplácito de Deus em nosso favor (Ef. 1:5) é, verdadeiramente, sem que nós tenhamos qualquer mérito. Se eu mereço alguma coisa e recebo isso não é graça, mas pagamento de uma dívida. Se eu mereço a minha salvação, então Deus será injusto se não me salvar. Isso confunde o conceito de Graça da Escritura.

A Graça é observada no fato de nós não termos qualquer mérito, mas mesmo assim, Deus graciosamente resolveu nos salvar; aí é onde entra o segundo conceito que precisamos ter: o de fé, pois pela graça sois salvos, por meio da fé (Ef. 2:8).

Fé, segundo o escritor aos Hebreus (11:1) é a certeza de coisas que se esperam e a convicção de fatos que não se vêem. Mas o que esse conceito ajuda na compreensão de Efésios 2:8,9?

Em Efésios vemos que a própria fé é um dom de Deus, portanto ninguém se glorie sequer de sua fé. Ela própria é dom da Graça Divina. Mas precisa ser compreendida de forma diferente do que estamos acostumados. Primeiro porque se a salvação é pela fé descarta qualquer obra humana o que mais uma vez aponta tão somente para o tema já tratado da Suficiência absoluta de Cristo e de sua obra na nossa salvação.

Evidentemente precisamos compreender à luz da Bíblia que Paulo não descarta o valor das boas obras, senão ele estaria contradizendo Tiago que afirma que a fé sem obras é morta, mas é o mesmo Paulo que continua seu argumento em Efésios 2:8, 9 e 10 – Porque pela graça sois salvos, por meio da fé. E isso não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras para que ninguém se glorie (10) Porque somos feitura dele criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.

Finalmente, esse é todo argumento do capítulo da fé: Hebreus 11, pois ao exaltar a fé, o escritor diz por ela (Abel, Noé, Abraão, Raabe, Moisés, e todos os outros) obedeceram. Ou seja, a fé que eles tinham e estava ali sendo exaltada era demonstrada nas suas obras de obediência.

Que cada um de nós possa saber o valor da graça de Deus em nos prover a fé, pois esses dois elementos são únicos e absolutamente exclusivos na nossa salvação. De fato sem fé é impossível agradar a Deus e, essa fé, como dom de Deus é fruto da graça que alcança pecadores como nós e nos transporta das trevas para a sua maravilhosa luz.

1 de nov. de 2008

A REFORMA PROTESTANTE APÓS QUASE 500 ANOS


I - INTRUDUÇÃO

Certamente há uma pergunta que se deve fazer ao voltar os olhos para movimentos tão remotos, mesmo que sobre a sua necessidade. Por que voltar a considerar o que ocorreu há tanto tempo?

Podemos receber algumas respostas que nos inibam no mister de considerar o movimento que ocorreu no início do Século XVII. A primeira é que com as novidades das épocas modernas, o passado não tem mesmo muito o que nos ensinar, afinal de contas estamos no Século XXI, e aprender com o passado não faz a gente olhar para o futuro, para as descobertas tecnológicas nas áreas mais diversas: ciência, cultura, medicina... Há uma frase de Cazuza que sempre me lembro quando reflito sobre a distinção entre o passado e o presente: “Eu vejo o futuro repetir passado, vejo um museu de grandes novidades”. E não é isso assustador? Automóveis ultra-modernos 10 anos atrás não passam de sucata ou antiguidade nos dias de hoje. Vemos um celular elite com vibracall sendo chamado de dinossauro e extraindo boas gargalhadas dos adolescentes que exibem as suas máquinas tão modernas quanto antigas serão daqui há poucos dias. Essa realidade é um obstáculo quando estamos tentando voltar atrás e aprender com a história.

Uma outra resposta negativa que podemos ouvir a voltar os olhos a Reforma Protestante, é o conceito que ela não atingiu os seus objetivos enquanto movimento, se, na verdade, frente aos muitos avanços tecnológicos voltar à Reforma nos torna bonecos de um passado sem muita graça, esse próximo argumento nos faz sentir pessoas separatistas, pois nos dias atuais a luta é pela unidade, e, se considerarmos, segundo esse pensamento, voltar os olhos a Reforma estaremos no sassemelhando a radicais inconsequentes, e, em última análise, até mesmo cometendo torpeza e pecado contra a unidade que deve ser louvada entre todos os povos. Esse é, sem dúvida, o pensaemnto pós-moderno.

Essas objeções acima vão exatamente de encontro ao meu intúito em balbuciar as palavras que estou iniciando, mas certamente nos abre os olhos para entendermos que há possibilidades de errarmos ao voltar os olhos ao passado, mas quero aqui argumentar, que muito podemos usufruir de um mergulho em um movimento histórico que dividiu o mundo de uma forma muito clara e objetiva. Veja, não vamos estudar a Reforma com o pensameto que o bom é o velho, não estamos aqui como os colecionadores de antiguidade, buscando a perfeição no que passou, mas uma cadeira antiga ainda pode ser um excelente objeto para se sentar. Certamente há cadeiras na história passada que podem ser muito mais úteis que as cadeiras plásticas que se quebram com tanta facilidade, não obstante toda a tecnologia envolvida para produzi-la.

Podemos mesmo errar em voltar aos olhos ao passado, por exemplo, se o fizermos como fizeram os fariseus que viveram na época de Jesus Cristo, pois foram do próprio Senhor essas palavras terríveis: (Mateus 23:29-32).

Essas palavras são do próprio Jesus e ele estava se dirigindo a sua geração, ele disse: vocês fazem muita festa celebrando os seus profetas, vocês até cuidam dos seus túmulos e adornam dizendo como eles eram grandes, e culpam até os seus antepassados por os haverem matado e perseguido. Vocês dizem inclusive que se vocês vibessem naquela época não permitiriam que isso acontecesse, pois teriam dado ouvidos a suas pregações, mas, diz o Senhor: vocês não teriam feito nada disso. Vocês são é hipócritas. E em que o Senhor se baseia pra dizer isso? Em como aqueles mesmos discursadores estavam tratando naquele tempo os sucessores dos profetas e, especialmente, a Ele mesmo, a quem todos os profetas já haviam predito.

Estarmos aqui cultuando em memória a Reforma Protestante, pode também ser pura hipocrisia, se não estivermos honrando a homens que hoje pregam como pregaram Lutero, Calvino, John Knox e os outros tantos reformadores. Como temos tratado as pessoas que propagam as suas doutrinas? Assim, ao tempo de hoje, uma reflexão sobre a Reforma pode ser de muita valia mesmo, mas não sem antes cada um fazer um auto-exame. Como crentes hoje tributamos grande valor a esses profetas de Deus, mas precisamos avaliar se não fazemos isso por mera hipocrisia.

Há muita justificativa válida para analizarmos a Reforma Protestante, mas uma chega ao ponto de ser universal. Não estaríamos na situação do mundo hoje, se não houvesse acontecido a Reforma. A Europa é conhecida hoje por ser um povo polido, educado, amante das artes, da cultura, da educação (um pouco disso já tem se perdido, mas quando se fala em cultura, os olhos se voltam ao continente europeu), mas precisamos admitir que essa cultura e educação do povo europeu não é meramente uma questão genética, pois estudar a idade média na Europa é aprender sobre a época das trevas, das grandes pestes, da imensa ignorância em todos os ramos do conhecimento, especialmente da religião, onde a Igreja sufocava o conhecimento e lucrava com a ignorância das pessoas. Essa realidade mudou pela via da Reforma. Antes da Reforma a Europa era impestada por vícios, imoralidade, atrasos socio-polico-economico-religiosos e muita ignorância, e isso mudou com o pensamento econômico e social de homens como Calvino e Zwinglio, cujos pensamentos se transformaram na base da boa democracia vivenciada em alguns lugares do mundo depois da Reforma.

Hoje, o mundo está voltando a Idade Média sob o ponto de vista moral. Problemas sociais (vejam as favelas no nosso país), a crise de segurança, os vícios (drogas, álcool, tabaco, computador, pornografia), os crimes. Tudo acontece hoje em dia com a mesma cegueira e naturalidade como ocorria antes da Reforma. Mas, pasmem! Não se trata apenas de problemas na sociedade. Vamos falar da nossa própria casa. Como está o estado da Igreja nos dias de hoje? Quantos escândalos, quanta imaturidade espiritual, quanta teologia rasa, baixa, barata, reducionista... Certamente estamos voltando na própria Igreja a confusão existente antes da Reforma. Será que alguém em sã consciência pode achar qua não há desunião doutrinária, não há pluralismo religioso no meio da Igreja, não há diversidade de pensamento? Estamos vivendo na mesmo indiferença e busca por coceiras nos ouvidos que viveram Lutero e seus contemporâneos, as pessoas não demosntram interesse pela doutrina, mas continuam a seguir seus mestres e seus pensamentos, estabelecento seus próprios conceitos sobre Deus assim como lhe apraz.

Voltemos os nossos olhos para a perseguição contra os bodes sofridas ainda no Século passado. Será que acabou a nossa diferença? Estamos tão próximos da Idade Média quanto poderíamos estar: As indulgências são vendidas hoje na televisão como algo barato, as custas damesma ignorância que assolava a Europa pré-Reforma, as pessoas estão indo atrás de um Deus que se troca pelo mísero e suado dinheirinho que poderia colocar um prato de feijão na mesa do ‘fiel’. Esses falsos profetas precisam ser denunciados, nem que alguns de nós precisemos ir à fogueira para isso. Valeu à pena o esforço de John Wycllyf, quando a história nos mostrou no Século seguinte, como o seu sangue regara o solo europeu naquela época despertada para uma nova realidade.

Anelisemos. É de fácil observação ver a época anterior a Reforma invadindo a Igreja: Vejamos as cerimônias e rituais, o pregação cada vez menos e mais rasa das Escrituras, a indiferença com a sã doutrina... pergunto se não estamos novamente necessitados em nos engajar com o intuito de salvar a Igreja. De Lutarmos juntos pela fé evangélica. (Judas) Estamos lutando por reconquistar aquilo que conquistamos há 500 anos e estamos gradativamente perdendo nos dias de hoje.

Alguns podem ainda alegar que tentar reaver a Reforma é dar murro em ponta de faca, não tem mais jeito; podem pensar que a sociedade já avançou demais e, por isso, falar como eles que não se pode uma mulher assumir a liderança de uma Igreja ou pregar contra o homossexualismo, viraram coisas politicamente incorretas e que a Igreja então precisa se adequar à realidade de um novo tempo. Pois é isso que vêm sendo feito nas Igrejas em todo mundo, e essa acomodação, seja por preguiça, por medo, por temor de homens, por pragmatismo está afastando cada vez mais a Igreja do ideal de sal e luz que foi colocada no mundo para fazer, e, ainda pior, está levando milhares de ‘crentes’ para o inferno, pois enganados estão hoje dizendo Senhor, Senhor, mas receberão naquele dia a dura palavra de Jesus: Afastai-vos de mim, vós os que praticais a iniquidade.

Queridos, dá pra perceber a urgência de uma reflexão sobre a Reforma nos nossos dias? Certamente estava na mente do iluminismo o ad fontes – volta às fontes. Nesse espírito, aprendemos na Reforma que precisamos mesmo olhar pra trás. Não apenas 500 anos, mas voltar às origens do que nos foi deixado pelos Profetas e Apóstolos do Senhor. E foi exatamente isso que os reformadores fizeram. Voltaram os olhos aos ideáis de Igreja segundo as páginas do Novo Testamento, e por isso eles poderam fazer tanta diferença na época em que Deus os colocou no mundo.

Agora estamos nós no mesmo mundo, sendo guiados pelo mesmo Deus, e resta a nós enxergar nos exemplos daqueles homens, onde eles extraíram toda a força, inteligência, coragem e amor que os levaram a transtormar o mundo 1500 anos depois dos discípulos do Senhor.

II – A REFORMA EM SI. O QUE FOI ESSE MOVIMENTO?

A primeira coisa que cada pessoa precisa admitir é que foi um movimento histórico fenomenal e um dos mais extraordinários que já ocorreram. A própria história mundial, já vista anteriormente, tem os seus desvios naturais a partir da Reforma do Século XVII. Como exemplo, os Estados Unidos foram concebidos segundo os ideais puritanos (reformados) e essa nava consepção de mundo, governo, política, redescoberta por força de estudos das Escrituras, impulsionaral aquelas famílias a atravessar o Atlântico e a viverem as idéias de liberdade religiosa, mas também, democrática e pensamento social – não socialista. Evidentemente com o tempo esse ideal foi se corrompendo, mas deixou a sua marca de possibilidade na história.

No campo da Igreja se fala muito na acomodação dos reformados no que tange a evangelização e propagação do evangelho. Nada mais longe de uma idéia erroneamente proliferada. Foi em 1555 que chegaram ao Brasil os primeiros missionários. Huguenotes franceses mandados por Calvino, eles foram espalhados por todo mundo frente a perseguição e massacre que sofreram na Noite de São Bartolomeu quando foram praticamente dizimados pela Igreja de Roma, mas Deus cumpriu o seu propósito de, por meio deles, levar o evangelho a muitos lugares. No Brasil aqueles seis homens seriam obrigados e escrever a Confissão de Fé do Rio e depois (à excessão de 1) foram empurrados na Baía da Guanabara por confessarem a sua féna Escritura Sagrada.

Calvino não foi o único. Todos os reformadores tinham a ardência pelas almas perdidas nos seus corações. A grande comissão os moveram a, voltando os olhos para a Bíblia, deflagrar a Reforma. Depois deles, os seus seguidores mais apaixonados foram também grandes evangelista. Quem pode negar a piedade reformada e paixão pela pregação da Palavra em batistas como Jonathan Edwards e Charles Spurgeon? Hoje, o que precisamos é nos livrar da dicotomia Reforma – evangelização. A verdade é que a receita certa é que elas sempre andaram juntas.

Mas há ainda um outro detalhe que não pode ser esquecido (e como o D. M. Lloyd-Jones aqui precisamos saber o que não dizer, pois os avanços da Reforma foram inúmeros), que é a vida piedosa. A mudança de caráter e de vida dos Reformadores e das nações que se seguiram da Reforma.

Há um erro que precisa ser desfeito nos dias de hoje. Fala-se muito em ética cristã, mas se tenta alcança-la sem a piedade cristã que certamente a derivaria. A nossa doutrina é o que certamente nos levará a ser quem somos na prática. Em outras palavras, se você conhece e ama a doutrina correta e piedosamente passa a viver de acordo com o que você acredita, a justiça cristã certamente lhe seguirá. A história tem mostrado que essa tentativa está matando a Igreja cristã. A piedade e a doutrina vêm primeiro, depois a prática, a justiça, a ética. Uma depende e decorre da outra, tentar passar para a segunda sem a primeira, é estabelecer a nossa própria doutrina e conceito de justiça, i.e, pecado diante de Deus.

Como movimento (não simplesmente reliososo) a Reforma se fez testemunhar em várias localidades da Europa e coube a cada uma dessas partes, segundo Deus lhes concedia, o seu papel e importância na história. E a primeira coisa que pode chamar a nossa atenção são os homens que fizeram parte dessa história. É interessante a maneira que Lloyd-Jones fala acerca disso:

“Eu sou um admirador de heróis! Pensem o que quiserem de mim, eu gosto de ver um grande homem e de ler sobre ele. Numa época de pigmeus como esta, é bom ler sobre grandes homens! Nós somos parecidos, mas ali havia grandes gigantes na terra, homens capazes, de um intelecto gigantesco, de alto nível nos domínios da mente e da razão. Depois olhem seu zelo, sua coragem. Francamente sou admirador de homens que podem fazer uma rainha tremer!”

Certamente os homens da Reforma podem ser comparados com os grandes heróis da fé em Hebreus 11, e não é sem honra que eles de fato calaram tribunais, pararam armadas, foram injustamente perseguidos, mortos, torturados, pois eram homens dos quais o mundo não era digno (Hebreus 11:38 e contexto).

III – OS LEMAS DA REFORMA

Esses homens, levados por convicções firmes nos legaram alguns lemas que se não são, deveriam ser amados e estudados pela Igreja do Senhor: Sola Scriptura, Solus Christus, Sola Fide, Sola Gratia e Soli Deo Gloria (Somente a Escritura, Somente Cristo, Somente a Fé, Somente a Graça e Somente a Deus seja a Glória).

A autoridade da Escritura foi um ponto crucial na Reforma. Lutero foi cumlungido a negar os seus escritos na Dieta (Tribunal) de Worms sob pena de anátena e fogueira frente a todos os malévolos da diabólica Inquisição, mas ele recorreu às escrituras para dizer que apenas à Palavra de Deus a sua cosnciência estava submissa. Foi ele mesmo quem disse que ao som das Escrituras, todos precisam ceder.

Lembrem que o povo era mantido em completa ignorância. A tentativa de Jerônimo com a Vulgata (versão latina da Bíblia) em colocar a Bíblia na linguagem do povo, morreu com a própria lingua e o Latin virou lingua sacra que só os cléricos sabiam e tinham a capacidade de interpretar. A Bíblia ficou duplamente inascessível, primeiro pela ignorância de suas próprias e depois que, mesmo que lessem em inglês, francês ou alemão, não havia Escritura traduzida para seus próprios idiomas.

A necessidade da Palavra de Deus para as pessoas era tão grande que os reformadores não apenas ensinaram o povo a ler e escrever, mas cada um traduziu a ecritura para sua própria lingua: Lutero para o alemão, Calvino para o francês, etc.

Eles então passaram a se apoiar na autoridade da Escritura para defender as suas convicções e não mais na filosofia, na tradição e no pragmatismo. Nós precisamos fazer o mesmo nos nossos dias. Vejam a importância de olhar para o passado. Alguém pode duvidar que a Igreja hoje precisa retornar à Palavra de Deus? Ou vamos em frente achando que a nossa concepção ou aquilo que pensamos, dissociado da Bíblia, é o que deve ser tido por correto?

A Bíblia, segundo os reformadores, não era um livro pra ser julgado, mas pregado. Não é uma verdade, mas a verdade única e absoluta. Perfeita e inerrante. Nossa única regra de fé e prática, segundo a Confissão de Fé de Westminster. Queridos, não adianta dizer amém a essa verdade se ela não for vivida às últimas consequências pela Igreja. Ela, a Bíblia, é a Palavra final, e ela tem que estar acima das nossas próprias capacidades caídas de pensamento. Estamos prontos a viver assim?

Pastores, estamos prontos a admitir que a nossa autoridade é zero fora da autoridade da Escritura? É muito fácil se colocar à frente de um povo crédulo e que baixa a cabeça para tudo o que se diz, mas precisamos ensinar ao povo que mesmo nós, se pregarmos um evangelho diferente da Escritura, seja anátema (Gálatas 1:8), mesmo que seja um anjo do céu, ele não tem autoridade que vá além da Bíblia. Que solo seguro e firme nós temos para andar!

Esse livro vai nos levar a outras doutrinas e aos outros lemas da Reforma. Na Palavra encontramos e vemos a vida diferenciada dos reformadores frente a doutrina da Soberania de Deus.

Essa doutrina os ensinou a não olharem e tratarem dos seus problemas de maneira subjetiva como é natural que façamos. A procupação nossa muitas vezes pode ser em como conseguir alguma ajuda, uma cura, como ter paz ou felicidade... mas com os Reformadores e frente a doutrina da Soberania nós aprendemos é como podemos ser justos aos olhos de Deus. Que isso me custe a paz, a felicidade, a família, os bens, os prazeres ou a própria vida... ele é o nosso CASTELO FORTE. Eles se inclinavam diante de Deus e sabiam que Ele é soberano. Ele governa, controla, domina todas as coisas, pois Ele criou tudo e tudo diante dele é como um pingo, como algo que não é nada, como menos que nada (Isaías 40).

Esse Deus soberano se apresenta a nós na pessoa de Seu Filho. Por isso o segundo lema da Reforma era Solus Christus. Nele, sabia-se que a obra estava consumada. Deixaram de lado as lamúrias e ladainhas repetitivas de missas que refaziam o seu sacricício, pois entenderam pela Palavra que o sacrifícia havia sido perfeiro, de uma vez por todas e que não poderia jamais ser repetido.

Eles não olhavam para cruz e choravam, mas viram naquela rude cruz, levando os nossos pecados e as nossas dores, recebendo o castigo que nos trás a paz (Isaías 53). Os reformadores olharam para Cristo como um sbstituto para nós. Ele recebai as nossas dores e nos legava a Sua justiça.

Queridos precisamos amar a cruz de Cristo, a sua obra encerrada em nosso lugar, precisams prega-la com ousadia e destemor essa história que para uns pode ser loucura e escândalo, mas para nós que cremos, é o poder e a sabedoria de Deus.

Com base nessa obra perfeita e imutável de Jesus, os reformadores encontraram Efésios 2:8:9 de onde derivam outros dois lemas: Sola Fide e Sola Gratia. Somos salvos pela graça de Deus (somente) e por meio da fé (somente).

É muito comum ‘justificarmos’ pessoas e atitudes com base em seus comportamentos. – ah, é uma pessoa muito boa, Deus vai se agradar dela. Esse tipod e pensamento não crê na justificação pela fé, mas alia, ou mais, discorre que é pelas obras dos homens que eles são salvos. Mas o texto diz com muita clareza: Não é pelas obras para que ninguém se glorie. É interessante que essa doutrina nos coloca no nosso lugar de criatura caída em pecados, sem justiça própria e sem possibilidade de dar um só passo em relação a Deus. Por isso ela nos chama a atenção ao último lema: Soli Deo Gloria. Não há como usurparmos a glória que é de Deus. Apenas Ele é o merecedor de todo louvor e glória, pois toda a obra de redenção é dele e não de nós!

Uma outra doutrina que ficou muito clara na mente dos reformadores, é a da certeza da salvação e da segurança dos salvos. Evidentemente essa doutrina trás muita segurança e tranquilidade a vida do crente, pois ele, sabendo que não foi ele que conquistou a sua salvação, também sabe em quem tem crido e está certo que Ele é poderoso para guardar o seu tesouro até aquele dia.

Os reformadores protestaram contra o dogma que ninguém pode saber se vai ou não para o céu, como era (e ainda é) pregado pela Igreja de Roma, mas não se pode negar qua a Bíblia não deixa dúvidas que os homens de Deus conheciam e criam na salvação de suas almas, afinal de contas, a fé é a certeza de coisas que se esperam e a convicção de fatos que não se vêem (Hebreus 11:1).

Irmãos, devemos obsevar que quando a Igreja é espiritual, vigorosa, forte, possuidora de autoridade bíblica, os seus pregadores sempre são homens que falam baseados numa plena segurança e certeza de fé, como fazia o Apóstolo Paulo chegar a afirmar que NADA pode nos separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor (Romanos 8).

Baseados nessa certeza, esses homens foram seguindo os passos do Seu Mestre, e, como ovelhas mudas diante dos tosqueadores, foram queimados tantos em praça pública, imitando mesmo a fé de Estêvão, que ao ser apedrejado, tinha o sorriso no rosto pela expectativa maravilhosa da presença de Jesus em apenas alguns minutos. O fogo, as pedras, as dificuldades, apenas temperavam o momento mais glorioso da vida do Cristão, i.e, a própria morte. Para eles, o viver era Cristo e o morrer era lucro! Eles se alegravam, na certeza e na segurança que possuiam da sua salvação.

Muitas foram as doutrinas resgatadas das páginas da Escritura pela Reforma Protestante, na simplicidade do culto, Deus recebia a glória, e não os homens ou os ornamentos, as marcas da Igreja verdadeira era a pregação fiel da Palavra, a correta administração dos sacramentos (batismo e ceia) e a correta aplicação da disciplina eclesiástica. Uma igreja pura, sem firulas, apenas buscando na Escritura motivos e formas de se cultuar a Deus de maneira que Ele receba o culto satisfeito e não cheio de invensões humanas e/ou sugestões de Satanás.

Uma Igreja com essas marcas não é lugar para os titubeantes, para os que amam o mundo e as suas paixões, nem para aqueles que buscam na sua própria maneira de pensar a forma correta de agradar a Deus, mas no próprio Deus.

Outra marca fantástica nas vidas daqueles homens, certamente era a vida de oração que eles levavam. É uma falácia se dizer que oração é coisa de pentecostal. Não! Oração é coisa de reformado, de gente comprometida com Deus e que entende as suas limitações.

Lloyd-Jones pergunta: acaso Maria, Rainha da Escócia, não temis as orações de John Knox mais do que os soldados ingleses? Certamente os reformadores foram decisivos no resgate da religião de Cristo, pela sua peidade e despreendimento na oração. Eles sabiam que possuiam as doutrinas corretas, ortodoxas, mas nada poderiam fazer sem uma vida de oração.

Aprendamos com os reformadores as suas doutrinas, certamente, mas também o fato de serem eles homens como nós, eram homens de oração, homens que viviam na presença de Deuse que sabiam que sem Ele nada poderiam fazer. Eles possuiam um senso de incapacidade que nos deve humilhar na presença de Deus.

E, finalmente, a pregação da Palavra era algo muito preciosos aos olhos dos reformadores. Eles leram que a pregação é a loucura de Deus para salvar os perdidos e para edificar a Igreja, e eles viveram por essa convicção. Eles trouxeram novamente a pregação para o centro do culto (extraindo as cerimônias e rituais).

Muito se confunde pregação com discurso. Qualquer pessoa pode ler um texto da Bíblia fazer uma divisão inteligente e falar por 45 minutos, mas não é isso que caracteriza a pregação reformada. O ingrediente que faz da pregação uma pregação verdadeira é a verdade aliada ao poder do Espírito. O pregador tem a certeza inequívoca daquilo que prega, sabe que aquelas palavras são as mais importantes já ouvidas por aqueles que o escutam. Será que nós temos essa paixão e esse zelo todas as vezes que subimos ao púlpito para trazer a Palavra de Deus? Será que nos comove a urgência dessa mensagem para almas pecadoras? Pois essa certeza e poder é como se caracterizavam as pregações dos reformadores protestantes.

Não adiantava simplesmente ser muito bem feita, bem arquitetada, argumentada, cheia de conexões lógicas. Não adiantava ser pregada por um grande orador que poderia comover as pessoas com base na sua própria persuasão. Não! Lloyd-Jones lembra que aqueles homens não escreviam seus sermões com o olho na publicação em livros, mas pregavam aos seus ouvintes que estavam diante deles , e pregavam desejosos e ansiosos em transformar pessoas. Era com autoridade. Era proclamação e não declaração.

Amados com base no que vimos não podemos estranhar a fraqueza e a inoperância da Igreja de Cristo nos dias de hoje. Nós esquecemos a pregação da Palavra. Onde fica a ânsia de correr para a Igreja e ouvir a voz de Deus para mudar as nossas vidas? Hoje vimos aos cultos e queremos cronometrar – principalmente a parte da pregação: ai se o pregador de exceder no seu tempo!

Há histórias que alguns reformadores pregaram por mais de duas horas e quando se dava conta pedia perdão aos ouvintes e que iria parar, e eles gritavam dos seus bancos: pelo amor de Deus continue! Queridos quanta distância dos nossos dias! Onde está a nossa sede emouvir a Palavra de Deus?

Muitas das pregações de hoje em dia são simplesmente politicamente corretas. Não se chama o pecador ao arrependimento, não se confronta o pecado, não se fala das dificuldades de se viver como cristão autêntico no meio de uma geração corrupta. Não, em lugar disso nos esforçamos para não sermos grosseiros, para agradar a pessoas, para mostrar que temos diálogo, que somos bonzinhos. Isso é falta de amor pelos perdidos, pois eles estão sendo ludibriados pelo falso evangelho que tem saído dos nossos púlpitos.

Queridos vejam as pregações dos profetas. Onde eles se procupavão em agradar ao povo? Amós, Jeremias, que pregações duras e politicamente incorretas nos nossos dias. Vejam os escritos de Paulo. Gálatas insensatos, quem vos fascinou a vós outros, ante cujos olhos foi Cristo exposto como crucificado? (Gálatas). Analizemos os discursos de Pedro em Atos, como ele colocava o dedo nas feridas e mostrava o pecado das pessoas. Finalmente, busquem os discursos de Jesus. Onde se encontra o Jesus bonachão e quase abestalhado qua pintamos hoje em dia? Não, ele enfrentava o pecado, chamava os fariseus de hipócritas, raça de víboras, sepulcros caiados. Creio que Jesus seria tão mal recebido na Igreja de hoje como foi pelo povo de Israel há 2000 anos atrás.

Precisamos pregar profeticamente, precisamos dizer ao povo que não há lugar para boa nova, sem arrependimento e mudança de caráter e de vida. Estamos prontos para sofrer as oposições em detrimento da Pregação verdadeira? Afinal de contas é impossível viver piedosamente e não sofrer perseguição. E por que será que estamos em tanta paz? É por que estamos calados frente aos abusos da nossa sociedade. Queremos ser politicamente corretos, nem que isso exponha o evangelho ao desprezo e a ignomínia. Tenhamos o mesmo sentimento de Jesus, que suportou a cruz, não fazendo caso dessa ignomía.

E vejam queridos, o nosso medo em não pregar dessa maneira é o de espantar as pessoas, queremos ser legais, ser da galera, mas vejam também o exemplo de João Batista, um cara totalmente lunático que se vestia de peles e comia gafanhotos, a palavra esquisito serviria muito bem para descreve-lo, mas as pessoas iam ouvi-lo, e quando o ouviam, eram convencidas do pecado pelo poder do Espírito Santo. Pois assim eram os reformadores, tinham o fogo de Deus nas veias e pregavam pelo poder do Espírito sermões alarmantes, escandalosos, duros, que levavam os ouvintes à convicção de pecado, e, pasmem, a Europa foi transformada pela força dessa pregação. É assim que devemos pregar se quisermos transformar o nosso Brasil. Sem mercadejar a palavra, mas falando de todo o conselho de Deus.

Certamente esses homens tinham algum segredo que anda não falamos aqui. E o fato é exatamente o reconhecimento que não eram eles os protagonistas da Reforma. Era o próprio Deus. Deus soberanamente, levantou-os na sua época e local. Calvino, Lutero, Zwinglio, Knox e os demais, cada um, soberanamente, sendo preparado por Deus para fazer valer os ideais bíblico-reformados no Século XVII. O caminho já estava sendo preparado por Deus. Hus, Wyclif e outros se somam a milhares de homens e mulheres que deram as suas vidas por essa causa, pela causa de Cristo.

IV – APLICAÇÕES E CONCLUSÃO

Queridos o que vemos na Igreja e na sociedade hoje em dia é um esfacelamento moral assolador. O casamento como instituição está virando chacota, a vida em família está cada vez menos intensa e piedosa.

Crianças crescem sem o acompanhamento de pais que – no afã da modernidade – mais trabalham fora de casa do que se dedicam aos seus filhos, se tornam desobedientes e depois apenas se tenta aparar as arestas com a besteira de dizer que ‘adolescente é assim mesmo’.

Será que nada pode ser feito? A Reforma Protestante deflagrata em 31 de outubro de 1517 nos aponta para uma solução. A nossa situação é tão ruim como a Esuropa do Século XVI, mas como Deus levantou aqueles homens, Ele pode levantar-nos se estivermos dispostos a viver da maneira que eles viveram. Crer na Escritura e ser submissos a ela, viver a vida cristã sem temer. O que me pode fazer o homem? Se Deus é por nós, dizia Paulo, quem será contra nós?

Então a nossa solução passa longe, meus amados, de Lutero, de Calvino ou de quem quer que seja, por isso a nossa pergunta deve ser: onde está o Deus de Lutero? Assim como fez Eliseu em II Reis 2:14: Onde está o Deus de Elias? Nós podemos perguntar: Cadê o Deus de John Knox? O Próprio Moisés pediu para ver a Glória de Deus. Quem sabe seja essa a hora que bradarmos com ele: Mostra-me a Tua glória (Exodo 32).

Termino com um texto do Escritor aos Hebreus 4:14-16. Como podemos achar esse Deus? Eis aqui a resposta:

14 Conservemos firmes a nossa confissão. 15 porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas, antes, foi Ele em tudo tentado à nossa semelhança, mas sem pecado. 16 Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna.

Onde podemos encontrar o Deus de Elias, de Moisés, dos reformadores? Retornando ao primeiro amor; ao amor pelas Escrituras, retornar à fé que foi entregue aos santos, crer na Bíblia completamente e, com ousadia, vivermos de modo digno desse evangelho.

Estamos vivendo em época de crise, de pecado, de maldade. Queridos a única solução para as nossas vidas é encontrar esse Deus e ao Seu Filho, que à destra do Pai, intercede por nós. Ele mesmo que esteve entre nós e sabe o que é sofrer, e por isso se compadece de nós. Ele viu o pecado e levou sobre si, na cruz. Ele que era amigo de pecadores e lhes pregava a salvação. Por isso foi odiado pelos religiosos e autoridades ao ponto de o terem levado à maldição da cruz. O mundo estava contra Jesus, mas Ele foi vitorioso contra o mudo. Então a situação pode ser impossível para nós enfrentarmos sozinhos, mas podemos ter bom ânimo nas aflições, pois Ele venceu o mundo.

Mantenham firme a confissão, creiam em Cristo não de forma subjetiva e fraca, e certamente obteremos a misericórdia e graça para socorro em tempo oportuno. Essa é a necessidade da nossa Igreja, da nossa geração.

O Deus dos Reformadores é o mesmo ontem, hoje e eternamente, a Ele, toda Glória pelos séculos dos séculos!

Um Cavalo de Fruta Pão


O apóstolo Paulo em I Tessalonicenses 4:13 nos diz que, mesmo frente a morte de ente queridos, não nos entristecemos como os demais, que não têm esperança. A saudade que sentimos é alentada pela certeza das coisas que se esperam (Heb. 11:1) e da nossa reunião final nos ares (I Tess. 4:17) na presença eterna e constante uns dos outros e, sobretudo, do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Particularmente, eu me julgava muito próximo a Vovô. Não era à toa que meu desejo na infância era seguir os seus passos como Pastor e Médico. Evidentemente o Deus que dirige a história, me transformou em advogado – bem longe do projeto inicial; e apenas depois de vários anos, pela sua soberania e governo sobre todas as coisas, me chamou para o Ministério Sagrado.

Era semanal a minha ida ao Caiara para a companhia do casal Israel e Lúcia e não foram poucas as lições aprendidas mesmo em meio a brincadeiras inesquecíveis. Vovô nos ensinava ao engessar nossos braços, ao construir casinhas nas árvores, e, mesmo depois de velho, nas conversas no seu ‘escritório’ – a rede no terraço da casa – de onde muito aprendemos sobre a Palavra de Deus. Ele viveu o preceito da lei em Deuteronômio 6 ao inculcar a Palavra nas mentes dos que o cercavam com carinho e determinação dignas de um homem de Deus.

Mas uma cena especial jamais me sai da memória. Era da idade do meu filho (cerca de 3 anos) e havia ganhado um cavalinho plástico do tio Selva, que durou na minha mão apenas o tempo de Bano (meu irmão 4 anos mais velho) chegar e resolver que queria o brinquedo para ele.

O choro foi compulsivo e dramático, vovô se aproximou para saber do que se tratava (acredito que já sabia pela atitude que tomou). Aos soluços e interrupções pelas lágrimas escandalosas, tentei lhe dizer qual era o motivo de tamanha inquietação e angústia. A essa altura, já assentado perto do escorrego, Vovô tinha um fruta-pão na mão sendo transformado no cavalinho mais bonito e significativo que já recebi, apenas com alguns gravetos do chão virando patas e crina.

Aprendi depois de adulto, ao relembrar esse fato, o valor inestimável de gestos de ternura e simplicidade. Bano deve ter levado lições preciosas também, pois hoje ele tem me devolvido com juros o cavalinho de então.

Minha esperança é que nas lembranças que temos de Vovô, nós possamos ter sempre em mente que a glória pertence apenas a Cristo: Porque dele e por meio dele e para ele são todas as coisas, a glória, pois, a ele, eternamente. Amém (Romanos 11:36)!

A Vida Comum do Lar

Um Auxílio a Jovens Casais e Solteiros em Busca de um Relacionamento que Agrade a Deus

Pastor Samuel Vitalino
Igreja Presbiteriana de Teresina

A vida comum do lar é um termo emprestado dos escritos do Apóstolo Pedro (I Pedro 3:7), sendo a finalidade desse artigo, ajudar jovens casais e noivos a compreenderem seus papéis de mutualidade no casamento, bem como alguns princípios para norteá-los na difícil missão de criar filhos no meio dessa geração corrupta em que vivemos. Essas necessidades devem permear nossa mente, quando somos preparados para enfrentar o grande desafio de ensinar nossos filhos nos caminhos em que devem andar, com a esperança que eles não se desviem do Senhor (Provérbios 22:6).

Gostaria que esse material, além de auxiliar os que estão iniciando a sua vida matrimonial e que buscam cumprir o mandato social de encher a terra (Gênesis 1:28) com filhos da Aliança do Senhor, sirva também a pais que buscam na Palavra de Deus razões para educar suas crianças no caminho do Senhor.

Por essa razão, é necessário dividir o presente estudo em três etapas:

1) Vivendo como casal segundo a Escritura;
2) Quando os filhos chegarem, o que fazer?
3) Aplicações para a fase do namoro.

Nossa viva esperança, é que todos possam compreender seus papéis como propagadores da grande mensagem de salvação para o mundo, através da base da Igreja e da sociedade: a família.

O relato da criação é de grande importância no nosso estudo. Tudo o que falaremos aqui tem como fonte única a Escritura, pois cremos ser a Bíblia a Palavra de Deus de onde procede toda fonte de aprendizado necessária para nós, e, mais especificamente, nos capítulos 1 a 3 de Gênesis, onde a criação do homem e a queda têm tanto o que nos ensinar. Como nos lembra Gerard van Groningen em seu livro sobre família:

“Somos gratos a Deus por ele saber o que estava fazendo quando criou a família, quando ele, o trino Deus, disse: ‘Façamos o homem e a mulher e que eles sejam uma só carne e frutifiquem’. Louvamos a Deus por nos abençoar nisso. Pois quando ele abençoou, deu o poder, a habilidade e o desejo para o homem e a mulher serem marido e esposa e serem pais. Ele não só deu o desejo, ele deu a habilidade, a autoridade e o amor para que a família possa existir. Louvado seja Deus por ser o Criador da família e quem prescreveu o padrão e o modelo para ela.”[1]
Depois de haver criado todas as coisas visíveis e invisíveis, aprouve a Deus criar um ser segundo a imagem e semelhança dele mesmo[2], e ele fez isso criando o homem a partir do pó da terra já criada (Gênesis 2:7). Deus, havendo contemplado as obras de suas mãos, e vendo que tudo era muito bom (Gênesis 1:31), declarou que não é bom que o homem esteja só (Gênesis 2:18), de onde declarou a solução para isso dizendo que faria para o homem uma auxiliadora que lhe fosse idônea. Para que isso ficasse claro, Deus usou a própria costela de Adão para criar a mulher (Gênesis 2:22), e isso gerou um comentário de Moisés que foi grandemente usado na Escritura para falar sobre casamento em Gênesis 2:24 – Por isso deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois, uma só carne.

Vamos analisar também o impacto da queda relatada em Gênesis 3 nessa estrutura tão perfeita criada por Deus, e que mudança trágica houve para a humanidade, quando o homem e a mulher trocaram o seu papel na economia estabelecida por Deus na criação, pois Eva assumiu a liderança do casal quando aconteceu a queda.

Por essa razão, vamos iniciar o estudo tomando por base o relacionamento entre um casal e analisar dentro da estrutura bíblica, o papel do homem, como sacerdote do lar, e da mulher, como auxiliadora idônea, e, somente depois, veremos o impacto desse relacionamento na criação dos filhos.
[1] Van Groninger, Harriet e Gerard, A Família da Aliança. Editora Cultura Cristã, Segunda Edição. São Paulo, 2002. Página 40
[2] Pela progressão da Revelação, cremos que a referência seja ao fato do homem ser à imagem e semelhança da segunda pessoa da Trindade, o Deus-Filho – o Senhor Jesus Cristo.

I - Vivendo Como Um Casal Segundo as Escrituras

Já vimos introdutoriamente, que o casamento é a idéia de Deus desde os primórdios da existência humana, para ser a base dos relacionamentos interpessoais, bem como da propagação da espécie humana; e, muito embora deva haver mutualidade e reciprocidade para um bom convívio entre um homem e uma mulher, devemos analisar separadamente as funções requeridas de cada um, para o bom andamento da sociedade, e, sobretudo, para a glória de Deus.

O fato da criação haver sido relatada informando a idéia de Deus deve ser levado em conta quando estabelecemos que o protótipo único aceitável por Deus seja um relacionamento entre um homem e uma mulher. Não foram criadas várias mulheres e um homem, nem vários homens e uma mulher, nem tampouco dois homens ou duas mulheres. Cremos ser verdade incontestável de Deus, combater qualquer tipo de relacionamento que não seja o casamento entre um homem e uma mulher, somente.

Essa relação é tão bem estabelecida por Deus na Escritura, que é usada até mesmo para retratar o maior de todos os relacionamentos, que é o existente entre Deus e a humanidade regenerada pelo sangue de Cristo; como mais uma vez nos lembra Van Groningen:

“Repetidamente, lemos na Escritura sobre o casamento entre Deus e o seu povo (Ez. 16:8-16; Jr. 3:14; 31:32). Os profetas afirmam que Deus diz para o seu povo: ‘Eu sou o seu marido’. A aliança assumida por Deus com Abraão e mais tarde com os descendentes de Abraão tem sido citada como um casamento (Êx. 2)... Quando voltamos para o Novo Testamento, lemos que Cristo é o noivo e o seu povo é a noiva (Ap. 21:2,3; 22:17)... O casamento é uma representação, uma expressão do cumprimento do vínculo amor-vida entre Deus e seu povo.”[1]

Cristo, assim, é colocado como o exemplo máximo a ser seguido tanto pelo homem, pois como cabeça é o líder da Igreja, bem como pela mulher, uma vez que em todas as coisas foi submisso a Deus consumando a salvação da humanidade.
[1] Ibid. Página 27

1) Homem: O Sacerdote do Lar

O termo precisa ser explicado teologicamente. O sacerdote, segundo a Antiga Aliança, era aquele que tinha o ofício de expiar o pecado do povo de Deus. Em certo sentido ele era responsável pela vida espiritual do povo, por isso tinha de ter alguma coisa a oferecer (Hebreus 8:3). Da mesma sorte, o marido é o responsável pela vida espiritual do seu lar. Sobre ele cai a responsabilidade até mesmo dos erros de sua esposa, e esse é o grande desafio de uma liderança espiritual.

Há quem ache que pode ser exagerada a afirmação que o homem recebe a culpa dos pecados cometidos pela esposa, mas se entendermos que o líder responde pelos seus liderados, então, começaremos a compreender esse conceito; mesmo assim, nosso objetivo é prová-lo biblicamente, e não, simplesmente, com comparações lógicas. Voltemos os olhos ao relato da queda em Gênesis 3:1-6:

“Ora, a serpente era o mais astuto de todos os animais do campo, que o Senhor Deus tinha feito. E esta disse à mulher: É assim que Deus disse: Não comereis de toda árvore do jardim? Respondeu a mulher à serpente: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Não comereis dele, nem nele tocareis, para que não morrais. Disse a serpente à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que comerdes desse fruto, vossos olhos se abrirão, e sereis como Deus, conhecendo o bem e o mal. Então, vendo a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do seu fruto, comeu, e deu a seu marido, e ele também comeu.”

Vemos que logo após o mandato divino a mulher deveria ser uma auxiliadora idônea (Gênesis 2:18), Satanás tenta a Eva exatamente fazendo com que ela assuma a liderança. Ele conseguiu o seu objetivo de fazê-la pecar. O texto mostra que Adão foi absolutamente passivo em todo relato, estando ali ao lado de sua mulher, permitiu que o Tentador a abordasse sem que ele tomasse a frente de sua casa.

Não há dúvidas que a mulher é quem foi iludida e caiu em transgressão (I Timóteo 2:14), e não o homem; por isso ficamos alarmados ao ver as palavras de Deus para Adão: Maldita é a terra por tua causa (Gênesis 3:17). Percebe-se que a culpa do erro de Eva, caiu mesmo sobre as costas de Adão. Deve-se isso à passividade de Adão no relato da queda e também ao fato do homem ser o responsável pela sua casa.

Esse poderia ser um fato histórico isolado, se o exemplo máximo do relacionamento entre Cristo e a Igreja não fosse também o casamento. Cristo é o noivo e a Igreja a sua noiva. O termo é conhecido em Apocalipse (19:7; 21:2,9; 22:17).

A aplicação desse conceito feita pelo apóstolo Paulo é extremamente profunda, em Efésios 5. O argumento é lançado no verso 23: porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o Salvador do corpo. Paulo não demora a chegar à conclusão que liderar (ser a cabeça) traz as suas conseqüentes responsabilidades, e, nesse caso, é o próprio conceito de salvação.

Não que a mulher será salva pela profissão de fé do marido, mas no sentido de que, como sacerdote do lar, o homem é o salvador do corpo, como Cristo o foi da Igreja. Isso trás conseqüências muito práticas para o cumprimento do papel de liderança do homem. Ele diz nos versos 25-33:

Vós, maridos, amai a vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, a fim de a santificar, tendo-a purificado com a lavagem da água, pela palavra, para apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível. Assim devem os maridos amar a suas próprias mulheres, como a seus próprios corpos. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. Pois nunca ninguém aborreceu a sua própria carne, antes a nutre e preza, como também Cristo à igreja; porque somos membros do seu corpo. Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e se unirá à sua mulher, e serão os dois uma só carne. Grande é este mistério, mas eu falo em referência a Cristo e à igreja. Todavia também vós, cada um de per si, assim ame a sua própria mulher como a si mesmo.

O amor de Cristo pela Igreja foi incondicional. Ele deu a sua própria vida pela sua esposa, e, nesse ato de se entregar, ele a estava salvando, santificando, e a tornando irrepreensível diante de Deus. Cristo fez isso por nós. Ele assumiu de uma maneira tão abrangente as nossas culpas e pecados que, mesmo quando erramos nos justificamos pelo fato de ter Cristo se entregado por nós.

Quando Paulo aplica esse ato ao casamento, está mostrando a responsabilidade que recai sobre as costas do líder, de receber no seu próprio corpo os defeitos de sua liderada; Paulo passa a citar o texto de Gênesis, para enfatizar ainda mais essa responsabilidade. Até o casamento, a responsabilidade sobre a pessoa, recai sobre pai e mãe, por isso, deixa o homem seu pai e sua mãe, onde agora o homem passa a ser o responsável pela esposa, que também deixa sua primeira família.

O marido então, deve seguir o ensinamento geral dos Apóstolos em relação a sua esposa. Paulo instrui a todos que tenham o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus (Filipenses 2:5).

Pedro, ainda mais especificamente os instrui a viverem a vida comum do lar, com discernimento; e, a ter consideração para com as esposas como a parte mais frágil. Tratando-as com dignidade... para que não se interrompam as orações (I Pedro 3:7).

Esse é o conceito de liderança segundo a Escritura. O líder assume a responsabilidade e o ônus, mas exerce sua função de forma a preservar sua esposa (parte frágil), ainda que vivendo a vida comum do lar. Eis o que diz Van Groningen sobre liderança:

“As Escrituras nos ensinam que o homem foi matéria-prima da mulher. Ele imediatamente exerceu a sua autoridade. Ele lhe deu o nome, assim como fez com os animais que estavam sobre o seu domínio. Queremos dizer que não acreditamos que ser o cabeça indica superioridade... homem e mulher foram ambos criados a imagem de Deus... Juntos, o homem e a mulher representam e espelham Deus no mundo. O fato que permanece é que Deus nos deu posições e funções diferentes. Os mandatos foram dados a Adão, antes que sua auxiliadora estivesse ao seu lado.”[1]

Em termos práticos, o marido deve ter um amor e um zelo incondicional pela sua esposa, vivendo para ela, tratando, cuidando, adornando, santificando, pastoreando de maneira que ela esteja sempre linda, feliz, imaculada e impecável diante de Deus. Esse é o papel do líder na sua imitação de Cristo.

O termo viver a vida comum do lar precisa ser bem entendido. A queda trouxe conseqüências ao conceito de liderança/submissão (Cf. Gênesis 3:16), onde o homem corrompido pensa que ser líder é exercer a tirania, mas Pedro encerra esse erro com o termo usado para nomear esse artigo. A mulher não é escrava do homem, muito embora a responsabilidade da casa seja dela (Provérbios 31:10 em diante), o homem precisa compreender as fragilidades de sua amada, ser apto não para ordenar, mas para servir, como Cristo também o fez pela sua amada Igreja.
[1] Ibid. Página 74

2) Mulher: A Auxiliadora Idônea

Da mesma forma que Cristo é o exemplo de procedimento para o homem assumir o seu papel de líder, também o é para que a mulher assuma o seu de submissão. [1] Percebe-se de início, uma dificuldade com o termo, que tem sido utilizado nos nossos dias de forma pejorativa significando inferioridade numa suposta hierarquia. Mas não é. Se fosse, Cristo não seria em tudo submisso ao Pai.

Teologicamente entendemos que na unidade da Divindade há três pessoas de uma mesma substância, poder e eternidade[2], sendo assim, Jesus e Deus Pai não são hierarquicamente diferentes, mas Jesus assumiu dentro da economia Divina, a função de ser submisso aos decretos do Pai. Ele assumiu esse papel de muito bom grado, pois a relação entre ele e o Pai é de perfeita harmonia.

Essa relação perfeita serve de modelo para o casamento, e, da mesma forma que Cristo se submeteu em todas as coisas ao Deus e Pai, as mulheres, igualmente, devem ser submissas aos seus maridos (I Pedro 3:1).

Certamente a queda trouxe conseqüências negativas a esse relacionamento. A partir de então, vemos a dificuldade da mulher em aceitar a submissão, até mesmo porque são poucos os homens que assumem como devem o seu papel de liderança amorosa como Cristo.

Analisamos que seria muito mais fácil para as mulheres entenderem a função de sujeição, ou submissão, apontando para as responsabilidades do homem em detrimento dela mesma, e, se ele assume de forma positiva e real o seu papel de amá-la como Cristo amou a Igreja.

Mesmo assim, o texto de Paulo aos Efésios não deixa dúvidas quanto a esse assunto, fazendo coro com o já citado verso em I Pedro. Efésios 5:22-24:

Vós, mulheres, submetei-vos a vossos maridos, como ao Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher. Mas, assim como a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres o sejam em tudo a seus maridos.

O argumento do Apóstolo é o seguinte: se, enquanto Igreja de Cristo nós nos submetemos à sua liderança, as mulheres devem – já que a liderança do marido é comparada a de Cristo pela Igreja – com a mesma alegria, ser submissas aos seus maridos como ao Senhor.

Que grande glória é para nós, crentes, sermos servos, submissos ao Senhor Jesus. Nós pensamos e agimos assim porque ele tem demonstrado todo zelo e amor na sua liderança ao ponto de haver entregue a própria vida por nós, logo, se os maridos amarem suas esposas dessa mesma forma, como se requer deles, não será difícil que esposa seja também alegremente submissa.

O grande problema dos nossos dias, entretanto, é a relativização da verdade de Deus. As pessoas preferem seguir os seus próprios pensamentos que caminham após o curso deste mundo, e se conformam com ele, em lugar de renovar os pensamentos pelo conhecimento da Palavra de Deus (Efésios 2:1 e Romanos 12:1,2).

O pensamento do mundo hodierno é no sentido de que pensar em submissão da mulher é algo arcaico, grotesco e machista. Evidentemente se pensarmos num contexto de reclusão e tirania dos homens, podemos entender essa tendência; mas o fato é que a verdade bíblica não pode ser negociada por pensamentos com base na sua modernidade. Os céus e a terra passarão, mas as Palavras de Cristo não hão de passar (Mateus 24:34).

Como, então, deve ser o procedimento da esposa para com o seu marido? A própria palavra responde. Na continuação do texto de Efésios 5, Paulo diz no versículo 33 que a mulher deve respeitar (reverenciar) o marido.

Há quem atribua essas palavras a certo grau de machismo do Apóstolo Paulo, argumenta-se que ele não era casado e que ele não poderia compreender essas coisas referentes ao casamento. Evidentemente rejeitamos esse pensamento, pois sabemos que Paulo escreveu sob Inspiração Divina e suas palavras refletem com clareza a vontade de Deus para nossas vidas (II Pedro 1:20,21 cf. 3:15,16).

Mas imaginemos que alguém ainda diga isso de Paulo, mas o próprio Apóstolo Pedro insiste com base nos mesmos argumentos. Eis o texto de I Pedro 3:1-6:

Mulheres, sede vós, igualmente submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra, seja ganho, sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o vosso honesto comportamento cheio de temor. Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus. Pois foi assim também que a si mesmas se ataviaram, outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus, estando submissas ao seu próprio marido, como fazia Sara, que obedeceu a Abraão, chamando-lhe senhor, da qual vós vos tornastes filhas, praticando o bem e não temendo perturbação alguma.

O que Pedro mostra vai ainda além da explicação de Paulo, pois Pedro leva em conta maridos que não cumprem o seu papel, por isso mesmo ainda precisavam ser ganhos pela verdade. E o exemplo de Abraão e Sara (Gênesis 18:12) é usado para mostrar que as grandes mulheres do passado, tiveram esse procedimento e foram abençoadas por Deus por causa disso, e cada leitora da carta de Pedro, se considerava filha de Sara e deveria seguir seu exemplo de submissão.

Perceba que o espírito manso e tranqüilo não é o que está em voga nos dias do afloramento do feminismo, mas o fato é que entre o senso comum e a Escritura, nós optamos sempre pela pressuposição da Palavra infalível e inerrante de Deus. Com esses pressupostos e mais uma vez entendendo a responsabilidade do homem, ficam mais claros textos como I Timóteo 2:9-15 e I Coríntios 14:34,35 que falam do procedimento das mulheres no contexto de culto público a Deus: em silêncio.

O assunto é tão importante para Deus, que ele instrui as mulheres mais vividas a ensinarem esses conceitos as mais jovens em Tito 2:3-5:

Quanto às mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias em seu proceder... Sejam mestras do bem, a fim de ensinarem as jovens recém-casadas a amarem as marido e a seus filhos, a serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a Palavra de Deus não seja difamada.
[1] Um conceito que é lindo nesse contexto é o extraído do Salmo 54:4 onde Deus é chamado de ajudador, mesma palavra para auxiliador (como as mulheres devem ser dos seus maridos). Esse auxílio é chamado de submissão. Por isso Deus também se interpõe como exemplo a ser seguido pelas mulheres. Não que ele seja submisso ao homem, mas que ele dá o próprio exemplo para que as mulheres entendam seu papel sem com isso achar que são inferiores.
[2] Confissão de Fé de Westmisnter, Capítulo II, Parágrafo 2.

II - Quando os Filhos Chegarem; o que Fazer?

Uma vez estabelecido o relacionamento entre o casal, eles devem cumprir o mandato de povoar a terra e multiplicar a semente da aliança (Gênesis 1:28). Por isso lemos que herança do Senhor são os filhos, e o fruto do ventre o seu galardão. Feliz o homem que encher deles a sua aljava (Salmo 127:3,5).

O nosso objetivo aqui, entretanto, não é convencer os jovens casais a terem filhos[1], simplesmente, mas instruí-los, de acordo com a Escritura, para que possam criá-los sob a égide Divina.

Desta feita, vamos ver primeiramente como os pais devem tratar seus filhos e, em seguida, como os filhos devem respeitar e honrar os seus progenitores, lembrando as nossas responsabilidades e privilégios de sermos pais:

“Deus confia em nós porque nos ama como pais. Ele sabe que nos revelou o seu desejo e nos deu o seu Espírito, não somente para que conheçamos a sua vontade, mas também para entendê-la e cumpri-la. Deus nos confia seus filhos, amando-os como ele os ama, porque ele nos ama e amando-nos quer dar-nos umas das maiores alegrias que existem no mundo: filhos. Juntamente com o amor, confiança e alegria, vem a responsabilidade que nós, como pais da Aliança, temos de preparar essas criaturas portadoras da imagem de Deus, para serem futuramente os trabalhadores da Aliança e os servos do reino... não existe nenhuma situação na nossas vidas em que estejamos isentos de estar moldando, esculpindo, formando em nossos filhos à imagem de Jesus Cristo. Que dever! Que Privilégio!”[2]

É fácil notar que os conceitos mundanos mais uma vez vão de encontro ao estabelecer um padrão moral de acordo com as Escrituras, pois quando a Bíblia fala em buscar o bem do outro, o mundo busca a auto-satisfação.

Cada dia é mais comum que os pais – mesmo os crentes – transfiram a responsabilidade de criar seus filhos para escola, creche, igreja, babá ou alguma outra instituição, mas precisamos reconhecer que isso é um erro fatal. Quando os pais se aperceberem do grande mal que estão fazendo, certamente uma geração inteira estará perdida. Esse trabalho (que na verdade é uma benção de Deus) é intransferível e precisa ser exercido pelos pais, e eles somente. [3]

Hoje em dia os filhos são criados pelos pais para serem objetos sexuais. Cada vez mais jovens, os filhos estão experimentando a quebra de paradigmas arcaicos e vivendo vidas indissolutas que acabarão por trazer desgraça cada vez maior para a sociedade. Os jovens têm aprendido a construir seus próprios conceitos e viver pelo que eles mesmos imaginam, e não se dão conta que, com um coração desesperadamente corrupto (Jeremias 17:9) eles não vão encontrar as verdades santas de Deus, mas apenas as sujeiras que procedem de mentes decaídas e depravadas (Romanos 3:9-23).

No meio dessa geração corrupta, somos chamados a ser pais amorosos, que tratam a disciplina como algo sério na presença do Senhor. E também filhos obedientes, que busquem na honra aos seus pais os caminhos de sucesso que anelam trilhar. Vejam um excelente padrão a ser seguido:

“O Coração é a fonte da vida. Portanto, criar filhos diz respeito a pastorear o coração. Você precisa aprender a educar, voltar-se para o coração, a partir do comportamento visível, expondo a seus filhos as questões do coração. Em resumo, você deve aprender a envolvê-los e não a reprová-los. Ajude-os a ver que a forma como estão tentando aplacar a sede de sua alma é com coisas que não satisfazem. Você precisa ajudar seus filhos a divisarem um foco claro da cruz de Cristo.”[4]
[1] Isso seria objeto de um outro estudo, pois como propagadores da aliança de Deus, verdadeiramente devemos cumprir o seu mandato de “encher a terra e procriar” plantando a semente santa.
[2] Van Groninger, Harriet e Gerard, A Família da Aliança. Editora Cultura Cristã, Segunda Edição. São Paulo, 2002. Página 118-119, 128.
[3] Tripp, Tedd, Pastoreando o Coração da criança. Fiel, 5ª Edição. São Paulo, 2006. Páginas 5-11
[4] Ibid. Página 18

1) Pais amorosos

Sem dúvida alguma Jesus Cristo é, também o exemplo máximo de amor a ser seguido. Ele nos amou de forma completa e nos possibilitou um novo relacionamento com Deus nos enviando o Espírito do Filho, pelo qual clamamos Abba, Pai (Gálatas 4:6)!

Deus demonstra a nós, pais, a maneira pela qual nós devemos amar nossos filhos. Paulo assim acerta em Efésios 6:4: E vós, pais, não provoqueis à ira vossos filhos, mas criai-os na disciplina e admoestação do Senhor.

O não provocar os filhos à ira, significa que eles devem ser criados na disciplina. Certamente esse é mais um conceito que vai de encontro ao senso comum. A psicologia moderna ensina que os pais não devem bater no filho, pois este poderia levar consigo algum trauma para o restante de sua vida. Mas o contrário é o verdadeiro. O que os números têm mostrado é que a sabedoria Bíblica alcança muito melhor resultado que a tentativa estulta de estabelecer parâmetros de criação de filhos fora das linhas da Palavra.

O argumento mundano é que os filhos podem crescer rebeldes frente a pais que usem a vara como inibidor de suas atitudes, mas o que na verdade está por trás do ensino dos educadores, é a falta de coragem de tomar atitudes que beneficiam os próprios filhos e certa dose de amor próprio; pois qual é o pai que gosta de disciplinar o filho? Não, mas apesar de que toda disciplina no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico aos que tem sido por ela exercitados, fruto de justiça (Hebreus 12:11), por isso que o mesmo texto diz que o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe. Que filho há que o pai não corrige? Assim, se estais sem correção, sois bastardos e não filhos (Hebreus 12:6-8, Cf. Provérbios 3:11,12 e Jó 5:17). Salomão diz muito mais acerca disso, mas há uma declaração que deve ser muito bem entendida pelos pais da aliança para a compreensão do seu significado para a eternidade em Provérbios 23:12-14:

Aplica o coração ao ensino e dá ouvidos às palavras do conhecimento. Não retires da criança a disciplina, pois, se a fustigares com a vara, não morrerá. Tu a fustigarás com a vara e livrarás a sua alma do inferno.

Quanto mais amarmos aos nossos filhos, vamos compreender que não devemos deixar de corrigi-los, igualmente, quanto mais amor próprio desenvolvermos, vamos odiá-los desenvolvendo teorias anti-Bíblicas que a disciplina é coisa grotesca e ultrapassada.

Evidentemente não podemos confundir disciplina com espancamento e ira (Provérbios 19:18 – Castiga a teu filho enquanto há esperança, mas não te excedas a ponto de mata-lo), mas o nosso coração deve fazê-lo com muito amor e ensino, mas sem deixar de castigar enquanto há esperança.

Há exaustivo material na Escritura para ensinarmos os nossos filhos com a vara e a disciplina correta. Aqui vão alguns textos no livro dos Provérbios de Salomão: 12:1; 13:24; 15:5, 32; 27:5, 29:15, 17 além dos outros citados nesse artigo.

Mas o ensino é parte essencial na vida do crente, até mesmo para que a disciplina seja cada vez menos necessária. Somos instados a ensinar nossos filhos os caminhos do Senhor. Na Igreja Presbiteriana do Brasil nós batizamos nossos filhos na infância como selo que eles fazem parte da Aliança de Deus.

O batismo[1] não salva a criança, mas os pais demonstram a sua fé diante de Deus e dos homens de que vão ensinar os seus filhos a cada dia, para que, de futuro, eles venham na idade da razão e professem publicamente a sua fé, confirmando a aliança de Deus. (Cf. Provérbios 20:11 – Até a criança se dá a conhecer pelas suas ações, se o que faz é puro e reto).

A discrepância entre o pensamento pagão e o bíblico pode ser visto no mais festejado conceito de educação nos dias de hoje, onde Piaget[2] lançou a idéia que tem sido difundida e defendida por vários adeptos no mundo, como o exemplo que segue:
"Construtivismo significa isto: a idéia de que nada, a rigor, está pronto, acabado, e de que, especificamente, o conhecimento não é dado, em nenhuma instância, como algo terminado. Ele se constitui pela interação do indivíduo com o meio físico e social, com o simbolismo humano, com o mundo das relações sociais; e se constitui por força de sua ação e não por qualquer dotação prévia, na bagagem hereditária ou no meio, de tal modo que podemos afirmar que antes da ação não há psiquismo nem consciência e, muito menos, pensamento.
Entendemos que construtivismo na Educação poderá ser a forma teórica ampla que reúna as várias tendências atuais do pensamento educacional. Tendências que têm em comum a insatisfação com um sistema educacional que teima (ideologia) em continuar essa forma particular de transmissão que é a Escola, que consiste em fazer repetir, recitar, aprender, ensinar o que já está pronto, em vez de fazer agir, operar, criar, construir a partir da realidade vivida por alunos e professores, isto é, pela sociedade – a próxima e, aos poucos, as distantes. A Educação deve ser um processo de construção de conhecimento ao qual ocorrem, em condição de complementaridade, por um lado, os alunos e professores e, por outro, os problemas sociais atuais e o conhecimento já construído (‘acervo cultural da Humanidade’).
Construtivismo, segundo pensamos, é esta forma de conceber o conhecimento: sua gênese e seu desenvolvimento – e, por conseqüência, um novo modo de ver o universo, a vida e o mundo das relações sociais”.[3]
Essa idéia, mesmo que muito bela aos olhos dos educadores, se constitui num perigo de expor nossos filhos aos seus próprios raciocínios, e a crítica feita de fazer repetir, recitar, aprender, ensinar o que já está pronto é, na verdade o contrário do que nos ensina a Escritura que nos manda fazer repetir, recitar, aprender, ensinar exatamente o que já está pronto! Nesse ponto, como em tantos outros na nossa vida, precisamos aprender a estar mais dispostos a obedecer a Escritura e descansar que ela sempre está certa mesmo em detrimentos dos pensamentos lógicos de homens inteligentes, mas ímpios – Sola Scriptura é o caminho mais seguro na educação dos nossos filhos também.

Não apenas Salomão ensinou isso nos seus escritos, mas quando a Lei estava sendo repetida por Moisés, ele fez questão de incluir as seguintes palavras em Deuteronômio 6:5-9:

Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e com todas as tuas forças. E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por frontais entre os teus olhos; e as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas.

A diferença de conceitos é gritante, mas nós precisamos abrir mão da lógica humana, do curso deste mundo, e nos submeter ao catecismo à moda antiga, pois é mais seguro andar de acordo com a Palavra de Deus do que seguir a engenhosidade humana (Romanos 3:4).

A criação de filhos, segundo a Palavra de Deus, é aquela não provoca a criança à ira. Como vemos filhos indignados pela liberalidade de seus pais em detrimento de lhes ensinarem a verdade, oferecer-lhes limites, mas quando essas coisas lhes são negadas, aí, sim, se tornam rebeldes e de comportamentos indesejáveis, mas isso é exatamente fruto do que eles construíram de suas próprias mentes.

Por isso o remédio da Bíblia para que os pais não provoquem os filhos à ira é que eles sejam criados na disciplina e na admoestação do Senhor (Efésios 5:4); mas para isso os pais precisam ter coragem de irem contra o que o senso comum lhes apresenta, e isso é bíblico e desejável por Deus (Romanos 12:2).

O livro Pastoreando o Coração da Criança, de Tedd Tripp é altamente recomendado aos pais para ensinar-lhes alguns preceitos preciosos, especialmente como a disciplina e o amor andam juntos, portanto deve ser aplicada sem ira. Afinal de contas a ira do homem não produz a justiça de Deus (Tiago 1:20).

Apenas a guisa de citação sobre o assunto da correção dos filhos, eis alguns excelentes preceitos ensinados por Bruce Ray:

“Amamos os filhos que Deus pôs sob nossos cuidados? Queremos ver nossos filhos lançados no inferno, ou queremos vê-los salvos da ira de Deus? Se nós os amamos e queremos que eles sejam poupados, Deus diz que devemos discipliná-los. A correção é evidência do amor... A vara precisa ser usada dentro de um contexto de amor, na proporção da seriedade das faltas... Quando corrigimos além do necessário, nossos filhos perdem a esperança (uma profunda forma de desânimo – Col. 3:21). Começam a pensar que estamos sempre ralhando com eles e que não conseguem agradar. Portanto, use de extrema cautela e cuidado: não queremos empurrá-los para fora da estrada!”[4]
[1] Na doutrina da IPB o Batismo é a continuação da Circuncisão do VT que era aplicado nos infantes, por isso devemos observar da mesma forma esse Sacramento (Confissão de Fé de Westminster, XXVIII).
[2] Jean Piaget, em sua teoria chamada de Epistemologia Genética ou Teoria Psicogenética tenta explicar como o indivíduo, desde o seu nascimento, constrói o conhecimento.
[3] Fernando Becker, Série idéias nº 20. São Paulo. FDE, 1994.
[4] Ray, Bruce A., Não Deixe de Corrigir Seus Filhos. Fiel, 5ª Edição. São Paulo, 2001. Páginas 56, 78.

2) Filhos Obedientes

A conseqüência lógica que resulta de pais que assumem os seus papeis bíblicos e que amam seus filhos ao ponto de lhes ensinar (inculcar) o caminho do Senhor, é que eles jamais se desviarão dele (Provérbios 22:6).

O Quinto Mandamento é uma declaração muito direta aos filhos dizendo: Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá (Êxodo 20:12 e Deuteronômio 5:16).

O Apóstolo Paulo lembra que é o primeiro mandamento com promessa (Efésios 6:2,3) para que te vá bem e sejas de longa vida sobre a terra. Esse conceito é interessante, pois mostra uma verdade absolutamente provável (Cf. Provérbios 3:1,2 e 4:10), que se o filho cumprir o mandamento – Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor, pois isso é justo (Efésios 6:1) – ele não deve ir por caminhos que lhe coloque em situações vexatórias ou perigosas.

O argumento é que se os filhos obedecerem verdadeiramente a seus pais, a sua própria vida e integridade será preservada; mas o argumento teológico dessas palavras é mais profundo, pois a palavra terra tem o sentido de terra prometida, por isso o mandamento diz que o Senhor teu Deus, te dá.

Levando em consideração o sentido tipológico[1] dessa terra, na Nova Aliança temos a promessa sendo uma referência ao céu, onde estaremos para todo sempre (Salmo 23: 6) na casa do Senhor.

Portanto, à medida que nós, pais, amarmos os nossos filhos a ponto de disciplina-los com a vara que consola (Salmo 23:4), estaremos guiando eles aos pastos verdejantes (v. 2), uma outra referência ao céu, e aprenderemos a nessa vida, suportar com muita longanimidade o vale da sombra da morte, sem temer mal algum (v.4 cf. Tiago 1:2).

Com esses ensinamentos, os filhos serão obedientes e darão motivos de alegria aos seus pais (Provérbios 1:8,9; 4:3; 10:1; 15:20; 17:21,25; 19:13, 26; 20:20; 23:22; 28:7; 29:3; 30:11, 17), sem eles, outrossim, como os mesmos textos afirmam, eles serão desobedientes e se tornarão motivo de vergonha e tristeza.

Percebam como aquele que está sendo preparado para criar filhos, precisa saber que boa parte do resultado, depende de como os pais aplicam os preceitos bíblicos na vida dos filhos. Não queremos com isso diminuir a Soberania de Deus e a sua Providência[2], mas, sim, exaltar a responsabilidade dos pais para com os filhos em exercer os meios determinados pelo próprio Criador para que os filhos da Aliança sigam nos trilhos da Escritura.
[1] Tipologia é um termo teológico que explica como muitas coisas do Antigo Testamento existiram apontando para uma realidade superior no Novo Testamento (ver Hebreus 10:1 – a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas). Alguns exemplos apenas para elucidar: A terra prometida, que é o caso em discussão nesse artigo, apontava para a cidade que Deus é o arquiteto e edificador (Hebreus 11:9-10, 13-16) – por isso hoje a terra de Israel é apenas um pedaço de chão no mundo e nada mais; Os sacrifícios nos cultos da Antiga Aliança apontavam para o sacrifício perfeito de Jesus na cruz (Hebreus 9:11-14, 22-28) – por isso não mais oferecemos sacrifício e o culto na Nova aliança é simples. Há vários outros exemplos que poderiam ser dados, mas esses já servem para o nosso objetivo nesse artigo que é mostrar como as promessas feitas no quinto mandamento têm cumprimento na eternidade, com esse pensamento, os filhos que honram e obedecem aos pais de forma perfeita e plena dão prova que são filhos de Deus e herdarão a promessa de longa vida (eternidade) sobre a terra (Nova Jerusalém).
[2] A doutrina da Soberania de Deus ensina que nada foge do controle de Deus, nem mesmo as coisas mínimas que acontecem na nossa vida, como fruto de sua Providência (outra doutrina ensinada na Confissão de Fé de Westmisnter, Capítulos III e V).

III - Aplicações

O assunto que temos tratado aqui de maneira bem particular aos jovens que estão se preparando para o nobre e bendito casamento (Hebreus 13:4 – Digno de honra entre todos seja o casamento bem como o leito sem mácula) tem conseqüências duradouras e até eternas.

A escolha do cônjuge deve ser feita menos na perspectiva da emoção pessoal evidenciada no sentimento chamado paixão e mais na razão bíblica que evidencia um amor ativo e imperativo: Amarás, segundo a Palavra. Com esses conceitos, eis algumas dicas importantes aos jovens crentes:

1. Buscar um Casamento no Senhor

Esse assunto tem se tornado controverso, mas apenas o é pela dureza do coração das pessoas em buscar apenas os seus interesses baseados na limitação de suas próprias razões.

“O Novo Testamento é claro. Não devemos estar em jugo desigual, seja na adoração, seja na formação de uma família. Deus diz que o casamento é uma aliança e uma aliança liga duas vidas, dois seres que são totalmente um só no Senhor, um só na esperança, um só na fé, um só no amor, e esse casamento da Aliança é o começo e a base, a fundação, de acordo com as ordenanças de Deus, da família da Aliança.”[1]

Ouvem-se os argumentos mais banais em favor do casamento misto (entre um crente e um descrente), tais como: ausência de crentes do outro sexo, o valor maior do que fala o coração, crentes também se divorciam; descrentes podem se converter, etc.

Mas devemos analisar cada um desses argumentos deixando de lado o humanismo em detrimento da Revelação Bíblica – para o crente, única fonte de verdade absoluta.

O argumento de não haver crentes do outro sexo é tão sem nexo que é usado numa mesma comunidade por garotas e rapazes ao mesmo tempo. Imaginem como seria diferente se eles apenas se percebessem! Mas mesmo que esse não seja o caso numa Igreja específica, precisamos confiar que Deus é quem está no controle e não nós. Quando tentamos assumir o controle, certamente o caminho que aos nossos olhos parece direito, será, na verdade, caminho de morte (Provérbios 14:12; 16:25). Se confiarmos em Deus e orarmos, ele responderá segundo a sua vontade e não a nossa.

Isso, em lugar de ser desesperador, deveria ser um alento para o crente verdadeiro, que confia plenamente no Senhor e sabe que a sua vontade é boa, perfeita e agradável (Romanos 12:1); até por que não é de hoje que Deus ama a instituição do casamento. Ele criou o homem e a mulher para viverem juntos em casamento (Gênesis 2:18 – Não é bom que o homem esteja só. Ainda Provérbios 18:1 – O solitário busca o seu próprio interesse e insurge-se contra a verdadeira sabedoria).

O casamento é digno de honra e Deus deseja que busquemos essa honra com pessoas que terão o mesmo destino eterno que nós. Vejam o argumento do Apóstolo Paulo em II coríntios 6:14-7:1:

“Não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre a justiça e a iniqüidade? Ou que comunhão, da luz com as trevas? Que harmonia entre Cristo e o Maligno? Ou que união do crente com o incrédulo? Que ligação há entre o santuário de Deus e os ídolos? Porque nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão meu povo. Por isso, retirai-vos do meio deles, separai-vos, diz o Senhor; não toqueis em coisas impuras; e eu vos receberei, serei vosso Pai e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo Poderoso. Tendo, pois, ó amados, tais promessas, purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como do espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus.”

Os Símbolos de Fé da Igreja Presbiteriana vão pelo mesmo caminho da Escritura:

“A todos os que são capazes de dar um consentimento ajuizado, é lícito casar; mas é dever dos cristãos casar somente no Senhor; portanto, os que professam a verdadeira religião reformada não devem casar-se com infiéis, papistas ou outros idólatras; nem devem os piedosos prender-se desigualmente pelo jugo do casamento aos que são notoriamente ímpios em suas vidas ou que mantém heresias perniciosas”[2]

Entre os textos que a Confissão se baseia, está I Coríntios 7:39 – A mulher está ligada enquanto vive o marido, contudo, se falecer o marido, fica livre para casar com quem quiser, mas somente no Senhor. Portanto, há vasta advertência na Escritura a que busquemos o nosso cônjuge dentre aqueles que professam a mesma fé que a nossa, e isso para que, no futuro – tanto nessa terra como na eternidade, não colhamos os amargos frutos de uma decisão errada a esse respeito.

Há um outro preceito que precisa ser vivenciado e entendido nessa nossa luta em unir filhos da Aliança. Pensem daqui a alguns anos quando os filhos chegarem. Tedd Tripp pergunta: A Quem a criança adorará?[3] E essa pergunta precisa ser levada a sério, principalmente quando entendemos que o fim principal do homem é glorificar a Deus e goza-lo para sempre. [4]

Vejam que essa preocupação deve ser ainda mais ampliada quando vemos a necessidade de cultuarmos a Deus na nossa casa, pois esse é um preceito bíblico que precisa ser urgentemente resgatado pela cristandade a bem do nosso próprio futuro. Veja algumas implicações do culto doméstico trazidas pelo casal van Groningen:

“Deus é o único digno de louvor. Isso implica que na igreja, na vida e particularmente na família, cada um reconhece que nosso Deus triúno é soberano. Ele reina sobre tudo... Cultuar a Deus, significa que temos de reconhecer e acreditar que nossas necessidades, desejos e esperanças são aspectos secundários da adoração. Deus vem primeiro... É necessário separar tempo para cultuar a Deus. Expressar amor toma tempo. Expressar devoção toma tempo... por toda Escritura vemos que Deus exige adoração no lar... O culto comunitário era requerido... mas é no contexto do lar que a adoração deve ser ensinada e praticada. Se o culto não for ensinado (em casa) não será praticado (na igreja). Se devemos cultuar no lar, todos devem estar envolvidos... o culto familiar deve ser planejado de tal forma que cada membro possa e deseje participar... Culto familiar implica em adoração conjunta. Isso significa que todos os membros devem participar. Consideramos que esse é um requerimento indispensável”[5]

Imagine seguir esses conceitos com um cônjuge descrente. Quem vai por esse caminho obscuro de se ligar com as trevas, estará eternamente ligado com um filho(a) do inferno, por isso é que o casamento deve ser praticado entre os filhos da Aliança de Deus. Isso agrada a Deus e isso preserva o crente.
[1] Van Groninger, Harriet e Gerard, A Família da Aliança. Editora Cultura Cristã, Segunda Edição. São Paulo, 2002. Página 50
[2] Confissão de Fé de Westmisnter, XXIV, III
[3] Tripp, Tedd, Pastoreando o Coração da criança. Fiel, 5ª Edição. São Paulo, 2006. Página 34.
[4] Breve Catecismo de Westminster, Pergunta 1.
[5] Van Groninger, Harriet e Gerard, A Família da Aliança. Editora Cultura Cristã, Segunda Edição. São Paulo, 2002. Páginas 198-201.

2. Ter todo Cuidado com a Santidade

Esse ponto é vital. Temos enfrentado dias em que os crentes têm seguido o curso deste mundo e se deixado levar pelos seus próprios pensamentos se conformando com o status quo da sociedade (Efésios 2:2; Gálatas 5:24 e Romanos 12:1,2).

O padrão dos relacionamentos dos crentes deve ser o padrão da santidade (I Pedro 1:16 – como está escrito: Sede santos, porque eu sou santo). Nós fomos chamados a sermos santos nesse mundo pecador, mas as vontades da nossa carne nos impulsionam para outras direções e, por vezes, buscamos até mesmo na Escritura base para pecarmos.

Deixe-me ser muito claro aqui. Qualquer interpretação da Escritura ao falar de temas maravilhosos como a Graça de Deus e a Liberdade Cristã que tendam a levar o crente a uma licenciosidade para pecar é algo demoníaco e o fruto disso será que muitos que hoje se dizem crentes serão surpreendidos no julgamento ao ouvirem do Senhor: Apartai-vos de mim, vós os que praticais iniqüidades (Mateus 7:23).

Quando falamos de santidade, estamos falando do padrão de vida de um crente e o que atesta a sua verdadeira crença (ou não) em Deus. E quem sabe esse estudo não sirva mesmo para você avaliar o seu cristianismo; pois veja o que diz a Escritura em I Coríntios 6:9-11[1]:

Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de Deus.

Para levar a sério o Cristianismo e o próprio Cristo, há alguns cuidados que os relacionamentos entre os filhos de Deus devem ter (isso porque já falamos que os nossos relacionamentos têm de ser entre os filhos de Deus).

Estabeleça Limites – é interessante como os nossos limites são tão mais altos, via de regra, que os limites da Escritura.

Se você namora segundo os padrões do mundo, pense em algumas coisas. O namoro do jeito que é praticado hoje em dia é uma preparação para um divórcio no futuro. As pessoas tem se tornado descartáveis. Hoje não é incomum, adolescentes trocarem de namorados várias vezes e isso atesta contra a santidade do corpo que é o templo do Espírito Santo.

Veja que não é um procedimento santo os ‘amassos’ e ‘beijos’ que são tão comuns e rotineiros nos namoros entre nossos jovens (leiam I João 2:13 e vivam isso) não glorificam a Deus nem ao seu Filho Jesus Cristo.

Como saber os limites? Certamente não confiem nem em seu próprio sentimento ou vontade nem no que diz o mundo e muito menos o seu namorado(a); mas faça tudo as claras. Evitem ficar a sós e, quando isso for inevitável (nunca deveria ser), proceda como se seus pais estivessem ali. Se seus pais forem muito liberais, como se seu Pastor estivesse ali. Se seu Pastor também não ligar para essas coisas, proceda – como de fato é verdade – na certeza que Cristo está ali (Salmo 139:7-10).

Vise o Casamento – Sem entrar no mérito de se é certo ou não namorar (isso devemos fazer em um outro artigo futuro), se o seu namoro não visa única e exclusivamente o casamento, ele está errado.

Qual seria a razão de namorar? Se a sua razão for: experimentar, saber se é bom, curtir, passar tempo, se satisfazer, mostrar aos outros que você pode, conhecer melhor a pessoa, saiba que nenhuma dessas razões deveriam sequer se nomear no meio dos crentes.

Veja que os toques afetivos precisam ser deixados apenas para o contato entre marido e mulher, o namoro – como instituição inventada por mentes decaídas, não ajuda em nada no conceito de leito sem mácula requerido na Escritura e faz com que as pessoas cheguem ao casamento já ‘experimentadas’, e isso é mais uma coisa que apenas traz problemas e sofrimento e não aponta para a santidade de Cristo.

Evite a Aparência do Mal – Como crentes, somos lembrados que não precisamos apenas evitar o mal, mas também a própria aparência dele (I Tessalonissenses 5:22). Ninguém precisa ser conhecedor de hermenêutica profundamente para entender o que é evitar a aparência do mal. Portanto, evitem-na.
[1] Veja ainda: Romanos 6:1-14, Gálatas 5:16-23.

3. Ouvir os Pais e a Igreja

O Cortejo é uma idéia vista hoje em dia como ultrapassada, mas precisamos, mais uma vez, nos rendermos aos ensinamentos da Escritura, afinal de contas somos, em tudo, submissos à Palavra do Senhor.

Os jovens e adolescentes estão cada vez mais ‘independentes’ de seus pais e, levados pela idéia já vista do construtivismo, procuram tomar suas decisões em várias áreas de sua vida sem levar em conta a vontade deles.

Um exemplo disso na Escritura foi o caso de Sansão. Sansão é conhecido pela sua força extraordinária, mas também pelas péssimas escolhas na área da afetividade. Em Juízes 14:1 ele se afeiçoa de uma das filhas dos Filisteus – um povo inimigo do povo de Deus na Antiga Aliança, e ele declara a seus pais (procedimento necessário naquela época) que gostaria de recebê-la por esposa. O texto mostra que a afeição de Sansão se deu provavelmente por fatores externos (hoje alguém pode ser seduzido pela beleza ou simpatia de outrem; veja Juízes 14:7), em detrimento da obediência de se casar apenas com as pessoas pertencentes ao povo de Deus, como os pais de Sansão o tentaram fazer enxergar: Então, seu pai e sua mãe lhe disseram: Não há, porventura, mulher entre as filhas dos teus irmãos ou entre todo o meu povo, para que vais tomar esposa dos Filisteus, daqueles incircuncisos? E vejam a resposta obstinada dele: Toma-me esta, porque só desta me agrado.

Quando um crente toma para relacionamento uma pessoa de outro credo, está claramente negando a vontade de Deus; e nesse caso de Sansão, ele estava indo de encontro aos conselhos dos próprios pais, a quem, como esse artigo cita acima, precisamos obedecer e honrar – mais uma vez quero lembrar a razão anexa do Quinto Mandamento – Para que vá bem... Pois certamente não irás, se seguires caminho contrário.

Os pais de Sansão servem de algum exemplo para os pais de hoje em dia, mesmo que o senso comum diga que os pais não devem ‘se meter’ no relacionamento dos filhos, cremos que na Aliança é diferente. O nosso sentido de família é outro. Os filhos devem ser criados desde cedo a dialogarem com seus pais sobre todos os assuntos para que esse conceito seja até um requerimento dos próprios filhos.

Não há quem ame os filhos como os pais, e especialmente os pais crentes têm a sabedoria do Senhor de ajudar nesse processo de escolha do companheiro da filha ou da companheira do filho. Veja que o que propomos não é que os pais efetivamente escolham, mas que façam parte do processo de escolha, como quem ama seus filhos e certamente querem o melhor para eles, além de terem mais experiência também. Quantos problemas seriam evitados se vivêssemos esses conceitos nas nossas famílias cristãs.

Mas e quanto aos jovens crentes que vivem em famílias ímpias? É exatamente aí onde entra em ação a família da fé e a Igreja. Os Presbíteros de uma Igreja, seus Pastores, tem o papel paternal sobre a vida de suas ovelhas, e haverá um deles que seja sábio para ajudar os jovens também nessa área. Para as moças, especificamente, há até um conceito bíblico que as mulheres mais experientes da Igreja devam ensiná-las determinadas práticas (Tito 2:3-5) sendo assim usadas na continuidade da família da fé.

4 - Prezar pela Unidade Doutrinária

Esse conceito pode parecer realmente muito radical, se não for acompanhado de uma base bíblica que o suporte, assim como tudo o que temos expressado nesse estudo. Mas cremos que a Bíblia também preza pela unidade de pensamento em matéria de fé (Filipenses 2:1-4).

Se essa realidade deve ser vivida no corpo de Cristo como um todo, quanto mais no mais íntimo dos relacionamentos interpessoais!

Quando analisamos, por exemplo, os papeis de homens e mulheres, vamos compreender mais precisamente a razão desse ponto nesse artigo. Se o homem precisa ser o líder espiritual da casa e precisa ensinar a sua esposa em casa acerca das verdades de Deus (I Coríntios 14:35 – se porem (as mulheres) querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio marido). Imaginem a dificuldade de relacionamento quando esse preceito não é correspondido em casa.

Da mesma maneira, se uma mulher crente compreende esses e outros preceitos da Escritura, como será difícil se submeter totalmente a um marido que diverge de suas convicções acerca das doutrinas da Palavra.

Não seremos absolutamente dogmáticos nesse ponto, ele está sendo levantado como um conselho aos irmãos e irmãs que buscam um casamento com menos possibilidades de conflitos, e, creiam que ter o mesmo pensamento em matéria de fé é fundamental para que isso ocorra. Portanto, não dêem um passo tão importante na vida sem antes colocarem esses assuntos na mesa. Conversem e estudem juntos a Palavra de Deus.

5. Finalmente, Cumprir Diligente e Alegremente os seus Papeis e votos Estabelecidos na Bíblia.

Aos homens e mulheres Deus tem dado a bênção de poderem se casar, e ao fazer isso, devem exercer o amor bíblico, que se difere conceitualmente do amor mundano. O amor segundo o mundo não passa de um sentimento, que pode ir embora com a descoberta dos defeitos do outro, que sempre aparecem no decorrer dos dias, especialmente depois de estarem vivendo sobre o mesmo teto como casados.

Aos crentes, esse ‘amor’ segundo o mundo é o que podemos chamar de paixão. Até porque, como dito, esse sentimento pode acabar, mas, de acordo com a Bíblia, o amor jamais acaba (I Coríntios 13:8). Na verdade, o amor, segundo a Bíblia se evidencia exatamente quando esse sentimento vai embora.

O amor de acordo com a Palavra de Deus é, então, um verbo no seu tempo imperativo: amai-vos. Como pode um sentimento ser dessa forma aplicado? Simplesmente não é o sentimento que os inúmeros autores bíblicos têm em mente ao ordenar o amor, mas a necessidade que temos de – a despeito de qualquer sentimento – agir amando o nosso cônjuge.

Por isso não comece uma aventura na área sentimental sem antes entender esse conceito: casamento é para toda a vida. ­O que Deus uniu o homem não separe (Mateus 19:6). Se você está apaixonado(a), cuidado com esse sentimento, pois ele procede de um coração enganoso. Analise friamente os preceitos expostos aqui aplicando na vida do seu pretendente e veja que é melhor sofrer agora e depois recomeçar e ser ricamente abençoado por Deus do que precisar conviver com a conseqüência de um erro para toda a vida – e, por que não dizer – para a eternidade?

Se esses preceitos forem vencidos, não se esqueça que o dia-a-dia pode tornar as coisas difíceis. Conviver na mesma casa, dormir e acordar todos os dias juntos, não é a mesma coisa que se ver aos fins de semana para momentos de entretenimento, mas pode ser muito melhor, se o casal estiver disposto a fazer a vontade de Deus vivendo verdadeiramente um para o outro em todas as áreas da vida. [1]

Veja que o preceito bíblico é que o homem é propriedade da mulher e vice-versa (Leiam I Coríntios 7:3-6 – o sexo deve ser constante no casamento), por isso devemos criativamente tornar o lar, num ambiente onde a paixão possa (deva) existir, sem o componente do pecado.

“O falar amorosamente é absolutamente necessário entre marido e mulher. Não é somente o que um marido ou esposa faz um pelo outro, mas como esse amor é expresso. A frase ‘eu amo você’ deve ser ouvida entre pai e mãe, entre pais e filhos, entre irmãos. A sinceridade nesse falar amoroso um com o outro ocorrerá de modo mais espontâneo se ele existir continuamente no nosso relacionamento com Deus”[2]

As mulheres têm ainda uma escapatória a mais com base na graça maravilhosa do nosso Deus. Após o pecado, Deus danou a Serpente em Gênesis 3:15 colocando inimizade entre a descendência da serpente e o descendente da mulher (uma clara referência a Jesus Cristo). Esse texto poderia ficar sem muito entendimento, se a condenação graciosa da mulher não viesse imediatamente em seguida, no verso 16: E à mulher disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio a dores darás luz a filhos.

Quero dizer aos queridos leitores que as aplicações práticas disso são realmente de arrancar lágrimas. O contexto da Criação aponta para o castigo prometido por Deus para o caso do pecado: a própria morte (Gênesis 2:16,17) e, sem qualquer dúvida, essa era a expectativa de Eva ao perceber que Deus iria lhe dirigir palavras de condenação, mas o alívio veio não apenas com a continuidade da vida de Eva, com o tempo necessário para o arrependimento, mas recebendo ela a graça de continuar a ser a propagadora da vida. Mesmo que em meio a dores, ela daria luz a filhos, e um dos seus descendentes vingaria a sua mãe, ao destruir completamente a obra do Diabo: o Senhor Jesus estava ali sendo pregado.

Que coisa maravilhosa a missão de mãe[3] que a mulher recebeu de Deus naquele momento. Ela seria a responsável pela propagação da espécie e a mulher crente, em especial, é a responsável pela propagação da semente santa. Por isso é que Paulo aplica esse texto de forma a mostrar a salvação da própria mulher naquele ato gracioso de Deus. Veja I Timóteo 2:15 – (A mulher) todavia, será preservada[4] através da sua missão de mãe, se ela permanecer em fé, e amor, e santificação, com bom senso.

Finalmente aos pais, jamais esquecer dos votos feitos com relação aos filhos de ensinar-lhes os caminhos do Senhor inculcando-lhes nas mentes os Preceitos da Palavra de Deus; corrigindo seus erros com brandura e firmeza, pois a vara e o amor são inseparáveis no treinamento deles para a vida.

Posso finalizar esse ponto simplesmente citando Paulo aos Colossenses 3:18-21:

18 Esposas, sede submissas ao próprio marido, como convém no Senhor.
19 Maridos, amai vossa esposa e não a trateis com amargura.
20 Filhos, em tudo obedecei a vossos pais; pois faze-lo é grato diante do Senhor.
21 Pais, não irriteis os vossos filhos, para que não fiquem desanimados.

Que cada um possa compreender o peso dessas ordens e viver de acordo com cada uma delas!

Soli Deo Gloria!
[1] Quanta diferença do conceito do mundo de viverem vidas separadas, ainda que debaixo do mesmo teto.
[2] Van Groninger, Harriet e Gerard, A Família da Aliança. Editora Cultura Cristã, Segunda Edição. São Paulo, 2002. Páginas 187,188.
[3] Chantry, Walter, A Soberana Vocação da Maternidade. PES.
[4] Salva: no original.